O monstro invisível: Conversa com Gogun sobre “Devorado pelo Vazio”

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Luís sempre se virou sozinho. Quando marcas estranhas começam a aparecer no corpo dele, decide não comentar com ninguém. Mas mal sabia ele que eram apenas um indicativo do que estava por vir. Uma entidade devoradora de corpos e almas está a sua espreita. Ele precisará então lutar contra a própria mente e conhecer mais sobre os segredos que o cercam para salvar a si e aqueles que ama antes que tudo seja devorado pelo vazio.
 

Essa é a premissa de Devorado pelo Vazio, livro do escritor Gogun publicado de forma independente. Ambientada no Brasil, a história de terror envolvendo problemas familiares e assombrações parece ter uma ligação intima com a vida do escritor, que relatou suas inspirações em entrevista exclusiva ao Mais QI Nerds.
 

“Essa história sempre esteve dentro de mim. […] Senti que era exatamente a história que eu precisava e queria contar”, afirmou Gogun. O autor descreveu ainda o processo de escrita da narrativa, a maior publicação dele até então.
 

Confira a entrevista:

Como surgiu DEVORADO PELO VAZIO? Quais foram suas inspirações para escrever a história?
 

Essa história sempre esteve dentro de mim. A versão protótipo dela é de 2016 — publicada no Wattpad e com algumas centenas de leituras. A temática do jovem assombrado e se perdendo nele mesmo sempre andou comigo por motivos muito pessoais. Quando vi uma revista com submissão aberta resolvi tentar escrever um conto, mas, sem muito planejamento, deixei a associação livre de ideias sair e se transformou numa primeira versão bem ruim do livro. Ainda assim, o personagem central, o conflito, a história em si me cativaram demais. Senti que era exatamente a história que eu precisava e queria contar naquele momento.
 

Essa história, feliz ou infelizmente, é um retrato da minha adolescência e de algumas pessoas que conheci (e perdi) unidas numa coisa só através do horror. Como sou um ficcionista, não um biógrafo, claro que fui absorvendo coisas de outras mídias para fazer essa transição, entre elas estão obras como Silent Hill 2 (game), A Maldição da Residência Hill (série), Happiness (mangá), Kafka à Beira-Mar (Haruki Murakami) e olhando para trás, sinto que peguei até coisas emprestadas de outras histórias como O Centro de Todo o Caos (Marina Feijóo). Sem contar que os elementos de body horror na história foram a cereja do bolo, adicionada após ouvir a música The Grey da banda de Metalcore Bad Omens.
 

Essa é sua maior obra — pouco mais de 140 páginas —, como foi trabalhar e quais as possibilidades que uma narrativa mais longa lhe proporcionou?
 

Queria muito que fosse um conto (risos). Só que tanto os leitores betas como a leitura crítica me indicaram a necessidade de aumentar a narrativa para caber tudo o que eu estava tentando contar. No fundo, eu sabia disso também, só estava sendo birrento como muitas pessoas que escrevem acabam sendo às vezes. Passada a birra, foi bastante fácil trabalhar com a expansão.
 

Essa expansão me deu mais espaço para moldar os personagens e aprofundá-los. Numa história tão dramática, isso é muito bem-vindo e acho que foi a principal possibilidade que uma narrativa maior me permitiu, baseado no meu estilo de escrita. Mas não foi só isso, claro, pois sendo uma história de terror ter mais espaço me deixou fazer a assombração soar mais perigosa, mais assustadora. De forma resumida, trabalhar numa narrativa desse tamanho me deu liberdade na escrita — mas eu ainda amo o poder dos contos (risos).
 

A sua estreia como escritor foi em 2020, com o conto O Telefonema de Deus, o que mudou de sua escrita de lá para cá?
 

Muita coisa! Além do óbvio que é a maturidade, também estudei muitas coisas, fiz cursos, li livros (de ficção e não ficção) e fui desenvolvendo a escrita. Fui, de certa maneira, me encontrando nestes três anos. Quando escrevi e lancei O telefonema de Deus eu não tinha muita certeza do que queria escrever — Horror? Drama? Fantasia? Realismo Contemporâneo? —, tanto que não tinha sequer feito um planejamento muito elaborado sobre a carreira. Três anos depois e eu me vejo como um escritor de terror (mas nada imutável, veja bem…). Essa virada de chave faz muita diferença quando somada a todos os estudos e experimentos realizados ao longo dos anos — e eles podem ser vistos nos contos publicados em revistas e newsletters, pois fui cada vez ficando mais próximo do horror ao longo desses anos. Diria que hoje em dia eu sei exatamente o que quero escrever e posso escrever o que eu quiser sem medo.
 

O que sempre quis responder sobre o livro e ninguém nunca perguntou? Nos diga a pergunta e a responda. 
 

“Quando abrimos o livro vemos que ele tem um prólogo e um epílogo, mas também é dividido em três partes. As partes 1 e 3 possuem a mesma quantidade de capítulos, entretanto a parte 2 tem metade disso. Por quê?”
 

Eu sei como essa questão é muito específica, mas eu adoro ler/ouvir as pessoas contando decisões criativas então é algo que sempre quis responder. Foi uma decisão bastante consciente ter essa diferenciação. Ambas as Partes 1 e 3 falam de coisas semelhantes — em uma vemos o começo da possessão, na outra o futuro dela. A quantidade de capítulos foi uma maneira de sugerir como ambas as coisas são igualmente dolorosas e parecem durar o mesmo período dentro da mente de quem sofre, pois chega em determinado momento que já não se tem mais uma clareza do que durou mais. Então por que a Parte 2 não tem a mesma duração? Porque aquele é um momento de luto. A quantidade de capítulos foi pensada em refletir sobre as fases do luto que o personagem enfrenta. Tem ainda uma brincadeira nisso tudo, mas isso eu deixo para os olhares mais atentos dos leitores.


#Livros   ; ; ; ; ; ;


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