“Luzes do Norte”: Giulianna Domingues fala sobre processo criativo e inspirações

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Quando Dimitria Coromandel consegue a chance de trabalhar para a rica família Cantão da Romândia, ela acredita que todos os seus problemas e de seu irmão serão resolvidos. Mas ao conhecer a herdeira Aurora van Vintermer, tudo muda. Ao que inicia como um esforço para juntar o irmão com a nobre, acaba com a jovem tendo de lidar com seus próprios sentimentos em meio a uma trama repleta de segredos e mentiras. 
 

Mas esse não é o único segredo em Nurensalem, um monstro que ataca crianças, que somente é revelado sob as luzes do norte, e acaba cruzando o caminho de Dimitria. Ela terá que escolher: caçar ou morrer. 
 

Essa é a premissa de Luzes do Norte, fantasia da escritora Giulianna Domingues. Para conhecer mais sobre o livro, processo criativo e inspirações, o Mais QI Nerds conversou com a escritora, que contou ainda sobre a bem-sucedida campanha de marketing do livro, que despertou importantes questões no mercado literário nacional. 
 


 

Como surgiu a ideia de Luzes do Norte? Quanto tempo levou da escrita ao lançamento?
 

Luzes do Norte surgiu depois de uma viagem minha ao Alasca, onde eu pude ver a aurora boreal. Isso me fez ter certeza de que aquele fenômeno só poderia ser feito de magia… E eu pensei nos mitos do lobisomem, onde a lua causa uma transformação, e cheguei à conclusão lógica que a aurora boreal tinha que causar um efeito semelhante. Daí pra pensar no resto da história, foi um pulo.
 

Agora, para Luzes deixar de virar ideia e se tornar livro foi um tempo! Entre o primeiro rascunho e a versão final foram quase 3 anos e uma leitura crítica, reescrita, uma leitura sensível, betagens e ajustes, revisão gramatical… Todo esse processo beneficiou muito o livro. Eu gosto muito da analogia de que a primeira versão de uma história é a areia numa caixa de areia, que você então vai usar para construir castelos. Luzes foi muito assim, um processo iterativo que contou com a ajuda e os olhos de muitas pessoas.
 

Não vou dizer que foi um processo fácil: toda essa coisa de procurar feedbacks críticos dói e muito. Eu estaria mentindo se não dissesse que dei uma choradinha depois de receber a primeira avaliação crítica. Mas isso foi essencial para que além de Luzes ficar o melhor livro que ele poderia ser, eu me tornasse uma escritora melhor. 
 

Eventualmente, depois de levar muitos “nãos” da indústria – muita gente me disse que não havia espaço pra fantasia no Brasil – eu resolvi assumir o lançamento por conta e em 2021, Luzes do Norte nasceu!
 

Luzes do Norte é uma releitura dos mitos do lobisomem, mas pela visão de mulheres sáficas. Como foi seu processo de criação? E quais elementos foram mais difíceis de desenvolver na narrativa?
 

Contei um pouquinho sobre o processo de criação ali em cima, mas uma coisa que foi super importante pra mim foi definir que o casal principal seria de mulheres — a ideia nasceu assim na minha cabeça, porque eu mesma sou uma mulher que também gosta de mulheres. Só que eu sempre me senti uma bissexual falsa, por estar em um relacionamento heterossexual durante tanto tempo, então o processo de escrever Luzes do Norte foi um longo processo de autodescoberta e de sair do armário, o que foi uma das coisas mais difíceis. 
 

Outra coisa MUITO difícil de desenvolver foi o mistério — quem leu sabe que Luzes tem um grande plot twist e que mistura alguns gêneros — e como foi minha primeira vez escrevendo suspense, eu sabia que ia ter que deixar uma trilha de migalhas, por assim dizer. Até planilha de excel eu fiz para mapear tudo que acontecia na história.
 

Conte um pouco sobre sua rotina de escrita.
 

Eu trabalho com marketing numa empresa que demanda bastante do meu tempo, então minha rotina de escrita tem que ser super regrada. Costumo escrever à noite, pelo menos uma hora por dia — mas confesso que nem sempre consigo, especialmente considerando todas as outras responsabilidades e funções que um autor nacional independente tem que acumular. É fazer marketing, planejamento financeiro, artes de divulgação… Sempre tem algo a mais para fazer. Mas eu tento fazer com que meu tempo de escrita seja sagrado.
 


 

A sua campanha de marketing do livro não apenas foi sucedida, como ainda despertou importantes questões de como fazer com que as obras, principalmente de autores independentes, cheguem à maior quantidade de possíveis leitores. Por conta disso você até mesmo produziu conteúdo de ajuda nesse sentido, também com grande alcance. Primeiramente, como foi para você desenvolver essa campanha? E o que a repercussão sobre ela trouxe para você?
 

Eu acho que o autor independente que quer ser levado a sério pela indústria começa se levando a sério. Como qualquer profissão, você tem que buscar se profissionalizar. E isso foi uma coisa que eu quis muito, me tratar como se eu fosse a minha própria editora, sabe? Eu cheguei a pensar no que eu faria se eu tivesse orçamento ilimitado, por assim dizer, e fui adaptando até chegar em um investimento de tempo e dinheiro que eu pudesse bancar. E é muito importante falar do privilégio que eu tenho — como autora branca, que mora nos Estados Unidos e ganha em dólar, que tem um emprego fixo — de poder investir no meu sonho e na minha profissionalização. Ainda assim foi bastante esforço, porque eu fiz tudo sozinha e tive que colocar muita energia, tempo e carinho nesse projeto. Perto do lançamento eu nem dormi direito, tive crises de ansiedade ao longo dos meses de pré-venda… Mas a resposta foi muito forte e isso me deixou muito confiante.
 

Até por isso eu quis escrever o post de marketing, para de algum jeito poder contribuir para a comunidade literária, que tanto me ajudou no processo de Luzes do Norte, e poder falar abertamente do que eu acho que está ao alcance de um autor nacional dependendo do quanto ele pode investir em termos de tempo e dinheiro — seja isso nada ou muito. Muito do que eu dividi lá não depende de investimento, é mais processual e estratégico — e isso é uma das coisas mais ricas.
 

No fim, eu acredito muito que outros escritores não são competição — o leitor sempre vai ter tempo pra ler mais um livro. Quando um livro de fantasia estoura, por exemplo, as pessoas buscam mais livros nesse gênero. E isso foi uma das repercussões que a thread me trouxe — uma comunidade que se engaja, que discute e se ajuda e isso é muito incrível. Tem muitos escritores talentosos com histórias incríveis por aí, é só questão de a gente furar a bolha. 
 

Luzes da Norte contará com continuação? O que podemos esperar de seu próximo lançamento?
 

Luzes do Norte é uma história única, sem continuação planejada por enquanto — para quem quiser um gostinho a mais, eu disponibilizei um conto (só para maiores de 18) de graça no meu Wattpad. Eu amo histórias que tem começo meio e fim, sabe? Adoro histórias únicas! Não posso contar muitos detalhes do meu próximo projeto, que está sendo desenvolvido junto com a Guta Bauer, minha nova agente literária, mas posso adiantar que vai ser uma fantasia — que é o que eu gosto de escrever. Pode ter certeza de que de onde veio Luzes tem muito mais. 
 


 

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