Entrevista: L. N. Santana conta detalhes do suspense “Terra Alagada”

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A descoberta do corpo de uma famosa drag queen nas águas turvas de um mangue. Um investigador marcado por eventos traumáticos do passado. Um caso que ameaça colapsar as estruturas sociais da cidade e sua sanidade mental.
 

Terra Alagada, suspense de L. N. Santana, pega todas essas situações e ainda acrescenta a autoproclamada Gayrrilha, grupo que promete vingar toda a violência sofrida pela comunidade LGBTQIA+. 
 

Para falar sobre o livro, o autor bateu um papo com o Mais QI Nerds revelando detalhes dessa história repleta de segredos, caos e violência. 
 

Confira: 
 

Terra Alagada foi originalmente publicado pela plataforma WattPad, recebendo até mesmo o prêmio Wattys em 2019. Qual foi a preparação e as mudanças desta nova edição?
 

 

O livro ficou quase um ano no Wattpad e nesse tempo eu mudei bastante. Li sobre militância, estudei representatividade e revi muitos conceitos. Quando decidi publicar Terra Alagada na Amazon, reli o livro e vi que algumas coisas precisavam ser reescritas, pois minha visão de mundo tinha mudado. Algumas coisas precisavam ser adicionadas e outras modificadas. O livro passou por leituras críticas, e foram adicionadas novas discussões, personagens e cenas extras. Também passou por três leituras sensíveis, para verificar a construção de alguns personagens e temáticas abordadas (mulheres trans, pessoas não binárias e religiões de matriz africana). Foi um processo bem lento e trabalhoso. Nesse ano eu amadureci muito, e sinto que o livro também. Se no Wattpad Terra Alagada era um adolescente, na Amazon ele chegou mais adulto.
 

Conte um pouco sobre o seu processo criativo. Tem alguma curiosidade sobre sua escrita? 
 

Eu gosto de escrever pela manhã, depois de uma boa noite de sono e com a cabeça descansada. Sempre com música bem alta, para me isolar de barulhos externos, e uma caneca de café. No fim de tarde e noite eu já estou cansado demais para ser criativo. Não escrevo todos os dias, mas estou sempre envolvido com o projeto em andamento. Em dias que não consigo escrever, eu releio o que escrevi nos dias anteriores, reviso, pesquiso ou planejo a história. Nunca é bom passar vários dias sem pensar na história que você está escrevendo, então mantenho minha mente sempre focada no mundo que estou desenvolvendo. Sou bem lento, gosto de fazer as coisas no meu tempo, deixo as ideias fluírem naturalmente e não me dou bem com prazos.
 


 
 

Quais foram suas influências em “Terra Alagada”?
 

 

Minhas influências foram meio “reversas”: antes de começar Terra Alagada, eu estava com vontade de escrever um suspense investigativo, então comecei a ler muitos autores contemporâneos de sucesso na época (estadunidenses). Não gostei de quase nenhum, vi vários problemas nas narrativas, nos personagens, etc., e isso me influenciou a não escrever aquilo. Resolvi fazer um suspense nos meus termos, com o que eu gostaria de ter lido. Então acho que essa foi minha maior influência. Além disso, enquanto escrevia, li muito Stephen King, e quem ler Terra Alagada vai perceber as influências nas cenas de tensão e violência. Saindo da literatura, séries criminais, como The Sinner e Top of The Lake, e o cinema noir também são algumas das minhas inspirações.
 

Uma das questões mais debatidas quando se trata de literatura com representatividade é que muitas vezes são limitadas aos gêneros de romance e hot. Em Terra Alagada, temos um suspense. Qual considera a importância de cada vez títulos mais distintos com personagens LGBTQIA+?
 

Por muito tempo a “representatividade” LGBTQIA+ (que na verdade se resumia ao Gay) esteve resumida a romances com histórias trágicas ou hot. Recentemente isso tem mudado muito, muitos autores LGBTQIA+ contando histórias com bastante representatividade, de todas as letras da sigla, mas ainda assim estamos um pouco centrados no Young Adult e romance. Eu gosto muito de suspense, terror, ficção científica, realismo fantástico, mas esses gêneros ainda são muito heteronormativos e cisgênero. Merecemos histórias fofas e com finais felizes sim, mas representatividade tem vários lados: nem só sofrimento, nem só alegria, mas pessoas LGBTQIA+ também podem ter mau caráter, serem vilãs, cometerem crimes, serem dúbias e suspeitas. Pessoas LGBTQIA+ também podem ser investigadoras, policiais, hackers. Isso é importante demais: além de gerar identificação nos leitores (e eu adoraria ler mais livros assim), isso mostra que existimos na sociedade de diversas maneiras.


#Livros  


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