Entrevista: Anastácia Ottoni fala sobre a autoficção “Entrecortes”

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Entrecortes, livro da escritora Anastácia Ottoni, conduz um relato forte sobre a hostilidade que o ambiente escolar pode representar. 
 

A autoficção,  termo usado para se referir a uma forma de autobiografia ficcional, mostra fragmentos da adolescência de Anastácia. Este ano, o livro teve uma nova edição, com capa ilustrada por Paloma Santos e um capítulo novo.
 

Conversamos com Anastácia sobre suas experiências e inspirações para criação do livro. Confira:
 

Como surgiu Entrecortes?
 

Entrecortes surgiu de um impulso de mostrar que existem inúmeras narrativas com a temática bullying que podem ter um final feliz, ou ao menos esperançoso. Eu tinha acabado de assistir Os 13 porquês na Netflix e foram muitos gatilhos pra mim. Decidi que precisava contar a minha história com as situações semelhantes que vivi, e que é possível sobreviver. Você não precisa ser a Hanna Baker.
 

O livro é uma autoficção. Como foi o processo de utilizar das suas próprias experiências e ainda da ficção falando sobre assuntos tão delicados?
 

Foi um processo extremamente doloroso, mesmo que terapeutico. Me vi revivendo um passado triste que já estava coberto de memórias felizes. Cavei meu inconsciente para voltar para a minha cabeça da época. Tudo era sombra, sangue e fumaça.
 

A Anastácia de 15 anos não fazia ideia que ainda estaria viva hoje e, no livro, eu explico apenas alguns dos motivos que me levavam a acreditar nisso. Digo isso porque vi que a Iris Figueiredo, autora que admiro muito por falar de saúde mental, comentou no twitter que não se imaginava chegando aos 28 anos de idade e eu me identifiquei demais com isso.
 

Só quem já quis morrer com todas as forças entende a pressão que é sobreviver os 27 anos. Porque acredita-se que o clube dos 27 é definitivo – mas estamos aqui, eu com 31 e Iris com 28 para mostrar que as coisas podem sim ser diferentes. E olha, eu fico muito feliz por ainda estar aqui. Acabei divagando um pouco sobre o que me foi perguntado e peço desculpas.
 

Entrelaçar minhas memórias com ficção em até certos momentos foi deixar uma situação horrível o mais “tragável” possível e em outros momentos foi dramatizar ainda mais o que já foi absurdamente dramático. Queria só enfatizar que de fato, tudo o que escrevi aconteceu. Inclusive o vestido de princesa medieval que usei na minha formatura rs.,
 


 

Qual considera a importância de escrever sobre tais assuntos?
 

Na adolescência eu tinha uma paixão muito grande pelo que era chamado de sick lit e esse tipo de história era o que mais me contemplava. Falava de adolescentes que se sentiam quebrados como eu, que tinham uma família disfuncional como a minha e que se sentiam peixes fora d’água como sempre me senti. Essas histórias me acolheram e eu acredito que escrever sobre isso tem esse papel de acolhimento. É como poder dar um abraço no leitor que está se identificando com a história. Quero que os leitores possam sentir meu abraço quando terminarem de ler Entrecortes. Você não está sozinho!
 

Quais as novidades da nova edição de Entrecortes?
 

Além da capa maravilhosa da ilustradora Paloma Santos e design do Henrique Morais (e o blurb da Iris Figueiredo que quase me fez chorar), acrescentei um capítulo que estava faltando; sou deficiente auditiva e ao conviver com outros PcDs, fui entendendo o quanto da minha adolescência foi moldado pela minha surdez. Eu tinha medo de falar com as pessoas porque tinha medo de não ouvir, então eu não falava. Achei importante acrescentar esse capítulo para ajudar na luta anticapacitista que visa normalizar as deficiências. Inclusive, gostaria de pedir a todos que fiquem atentos a tag #EscolaEspecialNãoÉInclusiva e #EscolaEspecialNãoÉInclusão.
 


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