O que há por trás de um musical: Gabriel Mar apresenta o livro “Bem-Vindos à Rua Maravilha”

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Igor escreveu Rua Maravilha sem esperar nada da história. Até que ela cai nas mãos do genial diretor André Mariani, que propõe transformá-la em um musical. Nos meses seguintes, entre ensaios, alegrias e lágrimas, Igor se vê tomado pela produção do espetáculo fazendo de tudo para torná-lo realidade.
 

Essa é a premissa de Bem-Vindos à Rua Maravilha, obra do autor manauara Gabriel Mar.
 

Conversamos com o autor, que nos detalhou como surgiu a ideia do livro, falou sobre inspirações e processo criativo e ainda revelou se há planos para histórias no mesmo cenário do livro. 
 

Confira: 
 

– Como surgiu Bem-Vindos à Rua Maravilha?
 
 

Eu sinto que foram vários pontos diferentes que se juntaram na ideia final de BVRM. Eu tinha uma necessidade por ver histórias com pessoas LGBT em que a questão da sexualidade ou identidade de gênero não fosse a pauta central da discussão. Em paralelo, eu também sentia falta de relações saudáveis entre personagens masculinos, especialmente em relação a homens afeminados. A ideia de fazer um musical acho que era um sonho febril que eu sempre tive e que pude “viver” nessa história, mas eu queria também deixar claro que não seria algo como ‘Glee’ ou ‘High School Musical’, com pessoas ambiciosas fazendo o necessário por seus sonhos.
 

Eu queria muito mostrar o outro lado dessa narrativa, que eu vejo muito ao meu redor: pessoas com enormes talentos que precisam travar uma verdadeira guerra contra seus medos e ansiedades para acreditar que podem e merecem fazer sucesso.
 

 
– Quais foram as suas inspirações para criação da história? Quanto tempo levou da preparação ao lançamento?
 

O ano que eu criei BVRM foi o ano do surgimento de Hamilton como febre da cultura pop, o que acendeu uma memória afetiva minha em relação ao teatro. Sempre fui fã de musicais, mas tinha um tempo que eu não me sentia tão atraído por uma narrativa como fiquei ao ver o espetáculo, e mais ainda ao ver as entrevistas do elenco e do Lin Manuel Miranda, que foi o criador e protagonista. 
 

Nisso, me deu o estalo de que eu sabia mais ou menos os processos que essas pessoas tinham passado para chegar naquele nível de produção, e que era algo que eu podia escrever por dias a fio. Era até difícil definir que cenas do processo de fato seriam interessantes para alguém que não tivesse nenhuma relação com a área porque para mim, tudo era incrível e maravilhoso, então eu podia ter feito um capítulo inteiro sobre escolha de sapatos ou costuras de figurinos se não tivesse me editado.
 

Vários outros musicais também me influenciaram de outras formas como “Wicked” por exemplo, que eu usei muito como referência para criar a história da Siena, que é uma das personagens mais queridas dos leitores. No meu coração, Siena e Elphaba moram no mesmo lugar, e eu reconheço muito da postura de uma na outra. 
 

Na construção do próprio “Rua Maravilha”, a sonoridade para mim vem dos espetáculos de Boi Bumbá, que são um grande movimento aqui no Amazonas, e eu fui atrás de várias apresentações de Parintins para decifrar como aquilo funciona.
 

Inclusive, o meu tweet fixado lá no @gmaremoto é um longo fio de referências detalhadas até de músicas que mexiam comigo só para eu entrar no clima e outras inspirações musicais.
 

 
– Existem planos para continuação ou algum outro livro utilizando o mesmo cenário?
 

Eu sinto que ainda sou super novo nisso de escrita, mas eu já escrevo desde 2012, e de lá para cá, muitos personagens meus entram em intersecção nas histórias. Um dos personagens de “Rua Maravilha” já estava presente em Altos dos Salgueiros, por exemplo.
Então é bem possível que pelo menos um deles volte a dar as caras, ou como participação especial ou como personagem coadjuvante. Eu gosto dessa ideia de que existe um universo de personagens meus habitando o mesmo tempo/espaço.
 


 

 
– Conte um pouco do seu processo criativo.
 

A escrita em si nem sempre faz tanto sentido.
 

Eu geralmente gosto de ser planejado, de ter estrutura para tudo e tal. Mas em “Rua Maravilha”, eu criei primeiro a relação entre Igor e Jackie, que são dois dos personagens centrais da narrativa. Ensaiei alguns diálogos entre eles o que serviu muito para eu entender como eles se expressavam e quais eram as dualidades entre eles, mas ainda tava muito distante no sentido de ter uma história de fato. Mas uma das minhas falas favoritas do Jackie veio desse período e ainda tá lá, bonitinha, na versão final do livro.
 

Depois disso, eu consegui criar uma introdução, o que levou à introdução do André Mariani, que é compositor e diretor do musical “Rua Maravilha”. Com ele eu tinha mais uma ideia da energia que eu queria que ele tivesse, mas era especialmente necessário que ele tivesse uma validação externa muito grande então nesse início eu colocava “genial” em quase tudo que falavam sobre ele.
 

Depois disso, eu escrevi uma dezena de audições que não entraram no texto, mas que foram a introdução de todos os outros personagens para mim. Acho que foi a parte mais elaborada do primeiro rascunho, identificar como seriam as personalidades que eu realmente queria levar aos ensaios e o que elas teriam a contribuir à história.
 

Além disso, foi um processo muito de tentativa e erro mesmo, até eu encontrar a versão de hoje. No primeiro rascunho, os eventos maiores da trama já estavam desenhados, mas eles foram reorganizados algumas vezes e demorou um tempo até eu consegui encontrar outros pontos de interesse na narrativa, até para dar valor aos outros personagens. Curiosamente, os coadjuvantes são justamente o ponto alto da narrativa pro público, então eu fico bem feliz por saber que uma das partes mais difíceis do processo se tornou importante para muita gente.
 
 

 

– Tem em mente o próximo projeto?
 

Minha cabeça tem diversos projetos, e eu raramente sei qual é o próximo que vai vingar ou que vai ver a luz do dia. Eu tenho uma ideia bem redonda de romance, mas não sei quando ele deve ficar pronto. Tenho também o rascunho de um conto que deve continuar sendo trabalhado esse ano, mas não faço promessas. A única garantia que eu dou é que meus protagonistas sempre vão ser LGBT. Acho que eu sou até incompetente para escrever outra coisa hehehe.
 

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