Conexões telepáticas, empanadas e intrigas na obra sci-fi “A telepatia são os outros”, de Ana Rüsche

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Inaugurando a coleção Universo Insólito da Monomito Editorial, “A telepatia são os outros”, da escritora Ana Rüsche, apresenta uma obra de ficção científica sobre superação, autoconhecimento e é claro, telepatia.
 

No livro, Irene vê sua vida mudar após a perda da mãe e a demissão do trabalho de longa data. Aos 50 anos, o luto e a estagnação a levam a uma súbita viagem ao interior do Chile, onde entra em contato com conhecimentos ancestrais de uma pequena comunidade rural e se vê em meio a uma disputa internacional: um cientista americano está tentando patentear a telepatia! Conexões telepáticas e intrigas em uma jornada onde se pode convidar os outros a partilhar de sua própria mente, e o poder da tecnologia sobre os modos de conexão entre as pessoas, na era da internet, é questionado.
 


 

Em entrevista exclusiva ao Mais QI Nerds, Ana Rusche detalha o processo criativo do livro, além de revelar inspirações e curiosidades. Confira:

     

  • Como surgiu a ideia de “A telepatia são os outros”?
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Ana Rüsche: A gente passa dias e noites conectados, não? Sempre com celular na mão. Daí fiquei pensando uma forma de comunicação que pudesse ser mais invasiva que a internet: a telepatia. Algo que vasculhasse tua intimidade, derrubasse as barreiras da falsidade social, enfim, que juntasse pensamento com pensamento. Algo que nos envergonhe, abra nossas fragilidades, mas nos conecte com outras pessoas de forma visceral.

 

A partir dessa ideia, fiz algumas extrapolações de como isso poderia se dar – por meio de uma bebida que alcançasse uma outra forma de consciência e, em um segundo estágio, utilizando a própria internet.

 

  • Quais foram suas inspirações?

 

 Há um ar de final de século no livro, principalmente por fazer uma analogia da descoberta da telepatia às primeiras conexões em rede. Assim, dá para ouvir algo do livro “Neuromancer” de William Gibson e do filme “Matrix” das irmãs Wachowskis. Entretanto, reforço a importância de saberes tradicionais de base rural, talvez isso seja bastante diferente dessas produções tão urbanas – aqui, minhas referências seriam leituras sobre agroecologia, muitos estudos a respeito de fermentados (trabalhei com cerveja por alguns anos). Por fim, gosto muito de poesia chilena e tentei trazer algumas personagens e vozes desse meio à narrativa. O filme “Poesia sem fim” do Alejandro Jodorowsky é uma mostra desse ambiente.
     

  • Como é seu processo criativo?

 

Além da fase de pesquisa e planejamento, gosto de fazer muitas versões do mesmo texto. Também faço questão de mostrar a outras pessoas, escutar críticas. Acho que um texto se revela quando a gente mostra para outros olhos. É possível enxergar as próprias falhas, as lacunas. Curto o processo de escrever e reescrever.

 

No caso deste livro, uma versão primeira do texto foi produzida para a Revista Mafagafo de forma seriada ao longo do segundo semestre do ano passado com o título “A desconexão telepática e seus abalos sísmicos”. A experiência foi fundamental, pois tive bastante suporte da equipe da revista e pude colocar o texto à prova. Depois, decidi publicar pela Monomito. Alterei a protagonista e também a ordem de alguns acontecimentos, além de prolongar o texto. O original ainda passou por leitura crítica do George Amaral (que fez a capa muito elogiada) e também das leituras sensíveis da Viviane Nogueira e Uva Costriuba. Gostei muito do processo todo, deu para ver a narrativa ganhar novos contornos.

 

  • Qual a tecnologia mais divertida que você usa no livro?
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Trabalhei muitos anos com cerveja, sou sommelier formada pela ABS – Associação Brasileira de Sommeliers. No livro, tentei inventar uma levedura, cuja existência fosse plausível, ao mesmo tempo em que procurei não ser exaustiva ao descrever o processo de fermentação. Foi bem divertido esse processo.
 

  • O que acha do mercado nacional de livros de ficção científica?
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O mercado para títulos nacionais ainda é incipiente e formado por valentes e pequenas editoras. Avec, Dame Blanche, Draco, Monomito, Plutão são as principais casas editoriais que trabalham com o gênero.

 

Nas de maior porte, temos títulos esparsos pela Rocco, além de livros voltados ao público young adult na Seguinte, selo da Companhia das Letras. Outras que trabalham com FC de forma pontual são: Malê, que publica o Fábio Kabral; Todavia com o “Tupinilândia” do Samir Machado de Machado; Patuá, que publica o Luiz Bras e Fabio Fernandes; o “Fractais tropicais”, antologia publicada pela SESI-SP.

 

A parte interessante é que há bons eventos para celebrar a ficção científica, canais bem feitos e muita leitura. Acho que há bastante terreno para se expandir.

#Livros  


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