Resenha: “A Face dos Deuses” (As Crônicas da Aurora Livro 1), de Gleyzer Wendrew

Sinopse: Heros Kinnhäert, rei de Maäen, ainda é atormentado pelos horrores vividos durante a Longa Guerra, e tudo que deseja é descansar em paz. Mas ao saber da terrível aliança entre dois grandes senhores, vê-se preso em uma teia de conspirações nunca antes vista, e não medirá esforços para evitar a destruição de seu país…
No Norte, Koran K’Voöhk é um orgulhoso guerreiro que retorna à sua cidade após o exílio que lhe foi imposto ainda garoto, e depara-se com a mais pura decadência: sua Família está em declínio; seu castelo, abandonado aos ratos; seus inimigos, ainda mais poderosos… Conseguirá ele reerguer o nome de sua Família e recuperar o prestígio que ela um dia tivera?
Mentiras, laços frágeis, falsas emoções e adagas traiçoeiras permeiam um mundo cercado de religião, política e deuses misteriosos.

A cruel face dos deuses

Visceral, não há outra palavra que descreva melhor o livro A Face dos Deuses, do escritor Gleyzer Wendrew. Primeiro volume da série As Crônicas da Aurora, o dark fantasy apresenta todas as características previstas ao gênero: uma atmosfera sombria, o terror de um perigo iminente, personagens densos e muito sangue.

O cenário apresentado é o de uma frágil trégua após uma guerra avassaladora, ao mesmo passo que se encontra na iminência de um novo conflito. Memorável e cruel, após a Longa Guerra, cada um carrega agora sua própria cicatriz do passado, seja por ter presenciado atrocidades, ou por situações vividas em sua família. Relações estão balançadas, pessoas não são o que parecem e sacrifícios devem ser feitos. Toda a compaixão parece ter sido perdida em um complexo jogo de poder e sobrevivência.

Com narração onisciente, cada capítulo é nomeado de acordo com o(s) personagem(ns) em destaque – E são muitos! – apresentando juntamente cenários e perspectivas muito distintas. Essa troca de núcleos pode refrear o ritmo da leitura. Ainda mais associada a possível necessidade do leitor de se lembrar de nomes, termos e relações, propriamente explicados no glossário ao final da obra.

Apesar de conter muitos personagens, como já mencionado, a individualidade de cada um foi respeitada pelo autor. A construção deles é realizada de maneira concisa, porém definida, e ao final de uma obra de pouco mais de 130 páginas, já é possível estar familiarizado com diversos deles. Extremamente humanos, com sentimentos dúbios e ações espontâneas, os personagens de Wendrew fogem de definições genéricas de bem e mal.

A divisão realizada nas perspectivas distribui a narrativa de forma equilibrada entre vários pontos de vista e com isso, também o faz com o protagonismo. Apesar de apresentar destaques, o que ocorre de forma bastante hierárquica na história, temos diversas figuras relevantes cujo desenvolvimento são de suma importância para a trama central – e atiçam a curiosidade do leitor.

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Esse primeiro volume funciona como um grande prólogo da série. A medida que as informações vão se encontrando, diversas outras questões se revelam, e é exatamente isso que instingará ao leitor a buscar por mais. Mantendo sempre uma alta tensão, contudo linear, ao final somos confrontados com um clímax enigmático.

Gleyzer não subestima o leitor com diálogos extensos e momentos grandiosos e artificiais de revelações. Com exceção de flashbacks que nos dão algumas informações sobre o que houve durante a Longa Guerra, a história se constrói para ela mesma. O leitor irá acompanhando a narrativa, juntando pontos e só assim, conseguirá ter um maior esclarecimento do panorama geral da obra.

Pensado em detalhes, o universo de A Face dos Deuses apresenta questões religiosas, políticas e culturais bem enraizadas. Gleyzer desenvolveu em detalhes as características dos diversos povos descritos. Desde nomes – Heros Kinnhäert, Cleyo Blo’Siänkh – , títulos – o’kennëg, pÿhn –  e expressões  a costumes, organização social – por casas com características de adoração a um deus específico, brasão e cores próprias – e questões culturais – como beber blläd –  tudo criado de forma extremamente criativa e elaborada.

A religião, como o título entrega, aparece como uma peça fundamental na narrativa. É ela que serve de motivação para diversos personagens e se mostra presente na vida deles de diferentes formas. A cada região, a adoração das divindades e a forma como as pessoas se relacionam com ela, possui características diferentes e muitas vezes controversas.

A Face dos Deuses é misteriosa, ardilosa e bárbara. Que venha A Dança dos Mortos.

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Gleyzer Wendrew nasceu no dia 19 de abril de 1992, em Brasília, cidade na qual cresceu e ainda reside. Embora formado em Administração de Empresas, curso do qual se orgulha, tem sua grande paixão na Filosofia de Nietzsche, na História Medieval europeia e asiática, e nas diversas mitologias espalhadas pelo mundo. Fã incondicional de J. R. R. Tolkien, Bernard Cornwell e George Martin, não tentaria excluir desta sua primeira obra os conhecimentos que adquiriu com os mestres da literatura fantástica. Atualmente se dedica a consolidar o universo criado enquanto escreve os outros 3 volumes da saga.