Trama complexa e sangrenta 

A Teia Escarlate, primeiro projeto expandindo o universo da pentalogia Tempos de Sangue, de Eduardo Kasse, apresenta uma obra visceral, perversa e sanguinária. Mesmo quem nunca teve contato com as obras poderá ler o quadrinho, e com ele absorver a atmosfera proposta primeiramente pela série.

Tempos de Sangue é uma fantasia histórica medieval que se passa entre os séculos X e XV na Europa e conta as histórias de pessoas comuns que, por escolha ou acaso, tornaram-se imortais sedentos por sangue. Os cinco livros são:  O Andarilho das Sombras,  Deuses Esquecidos, Guerras Eternas,O Despertar da Fúria e Ruínas na Alvorada.

Já o quadrinho inicia  em uma cidade esquecida na região do Rio Nilo, onde todos vivem para cultuar a Deusa Arachne dos Antigos Egípcios, que fica em seu templo proibido de Neith. Sob às ordens de Júlio César, o centurião romano Quintus vai até o local com a intenção de matar a deusa, e tudo muda. A partir daí,  percorremos a trajetória da imortal Juliette Minerva, desde seu nascimento em uma Roma que cultua os antigos deuses, até a vida adulta, sempre envolta em muito sangue e luxúria.

A proposta de mesclar texto com quadrinhos possibilitou a exploração de uma história que em apenas 84 páginas se faz longa e bastante complexa. Eduardo Kasse consegue despertar a imaginação do leitor aquilo que não possui imagens e corrobora para que a trama crie profundidade e para o maior entendimento do leitor quanto ao contexto que ela se apresenta. Com isso, Raphael Fernandes, que assina o roteiro dos quadrinhos,  conseguiu explorar os silêncios, as reações e ainda frisar os sentimentos – seja dor, ódio ou amor- sem preocupação em maiores explicações quanto a trama à parte do que é retratado em quadro.

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Os quadrinistas responsáveis pelas artes, Clayton InLoco e Daniel Canedo, trouxeram cada qual personalidade para a trama.  Com artes mais claras e delineadas, InLoco compõe o início da história de Juliette Minerva, desde antes de seu nascimento até criança. Os cenários se revezam extremamente detalhados – para fixação da aparência e cultura de um local específico  – ou completamente vazios – quando os destaques estão na ação que ocorre e na expressividade dos personagens.

Ao passo que a protagonista fica adulta, os traços que descrevem a história, de Canedo, apresentam formas mais escuras e obscuras, de um realismo impressionante e cuja indumentária aparece como fator de importância para contextualização da época que se apresenta a narrativa.  A mudança nas artes contribuiu ainda para acentuar essa transição de Julieta – criança confusa para a adulta sedenta- , uma passagem importante, e para enfatizar que as coisas sim vão ficando cada vez mais e mais sombrias.

O cenário para a narrativa possui diversas referências históricas e é repleto de figuras famosas. Elas aparecem de forma totalmente fundamentada à composição da trama.

A edição da Editora Draco apresenta um material de qualidade, em um encadernado com folhas pólem amareladas que remetem à publicações antigas. O gancho ao final da trama dá abertura para que ela continue e certamente aguardaremos ansiosos por isso.