Resenha: Livro “O Assassino do Zodíaco”, de Sam Wilson

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Sinopse: Numa sociedade corrupta e violenta, dividida pelos signos do Zodíaco, as desigualdades entre as pessoas vêm do berço e continuam por toda a vida. Assassinatos passam a ocorrer com brutalidade incomum, e as vítimas parecem não ter nada em comum. Seriam esses crimes uma rebelião contra o sistema ou obra de um serial killer? Para encontrar uma resposta, o detetive Jerome Burton se junta à astróloga forense Lindi Childs. Juntos eles percorrem uma trajetória sombria para tentar desvendar uma história tenebrosa de traição, amores perdidos, promessas quebradas e uma verdade devastadora capaz de abalar o mundo em que vivem…

 

Escrito nas estrelas ou escondido nas sombras?

 

Sam Wilson apresenta uma distopia policial cuja maior marca é a originalidade na construção do mundo ao qual O Assassino do Zodíaco está inserido.

 

A história do livro não diz respeito, como pode o título confundir, sobre o famoso assassino do zodíaco que atuou na California (EUA) no final da década de 1970 e cuja identidade nunca foi descoberta. Apesar de em “O Assassino do Zodíaco” haver a ligação com a astrologia, assim como os enigmáticos criptogramas do assassino real, a contextualização e ainda, todas as motivações inerentes ao assassino do livro são muito diferentes.

 

O livro é ambientado em uma versão da América dividida por signos astrológicos, ao invés de religião ou raça. São eles que determinam o papel da pessoa na sociedade. Arianos são hostis e discriminados, capricornianos são ricos e ambiciosos, etc.

 

Em um mundo onde a segregação é tão marcante, o “aceito socialmente” não é apenas uma opção. A opinião pública sobre um indivíduo é massacrante. A este serve a função de se encaixar e aceitar o papel pré-formulado para ele ou então ser marginalizado. Desde o nascimento, incluindo a data que é pensada pontualmente pela família – ninguém gostaria que o filho nascesse sob um signo diferente dos pais – o zodíaco possui influência em toda a vida da pessoa.

 

A começar das personalidades exigidas de acordo com as características previstas, como ao virginiano ser introvertido e ao canceriano ser sensível, por exemplo, aos gostos esperados e possíveis profissões a seguir. A influência do zodíaco interfere ainda nas relações pessoais de todos, com signos que possuem maior facilidade de socialização, e ainda a separação social de acordo com ele.

 

A ideia dessa segregação ocorreu ao autor por conta de sua vivência na África do Sul, onde se estabeleceu ainda criança. A observação de como os grupos culturais moldam a sociedade e as suas diferenças recorrentes de questões históricas como o Apartheid serviram de inspiração para o livro. Na obra, a discriminação por signos utiliza dos estereótipos de cada um para frisar seu papel social. É um fator que se apresenta tão enraizado, que a maioria tem isso como algo inquestionável, é a forma como a vida ocorre.

 

 

Em meio a tudo isso, o livro nos apresenta uma série de assassinatos que, primeiramente considerados aleatórios, começam a ter uma conexão ao passo que as investigações do detetive Jerome Burton e da astróloga forense Lindi Childs, especializada em fichas criminais, prosseguem. A atuação da astrologia até mesmo em casos criminais, que pode ser decisiva, é mais um exemplo da importância do zodíaco na sociedade.

 

A escrita, em terceira pessoa, é fluída e, auxiliada de capítulos curtos, apresenta a história de diversas perspectivas. Os protagonistas, apesar da concepção das características previstas a eles, funcionam exatamente no sentido de demonstrar que são mais do que os astros revelam. A personalidade do taurino Jerome e da aquariana Lindi são opostas, mas ao terem de trabalhar juntos, e a medida que vão se conhecendo, acabam por quebrar um pouco do preconceito que um tinha com o outro, por serem de signos diferentes.

 

A descoberta das motivações por trás dos crimes se mostra mais marcante que a revelação do assassino em si. O que a princípio se desenrola apenas como um caso envolvendo um serial killer, possui um plano de fundo ainda mais elaborado.

 

Todos os questionamentos propostos através da história, que utiliza dessa contradição entre o misticismo da astrologia com a concreta ação policial, fornecem comparações ao nosso mundo. O papel de manipulação da mídia, a internet como espaço para expressão, o manejo do senso comum, os conflitos gerados por quem discorda do sistema, e os limites na luta por convicções e ideais, está tudo em O Assassino do Zodíaco. Ao falar sobre preconceito e segregação, o autor utiliza de metáforas e paralelos para construir uma crítica a nossa sociedade atual.

 

Primeiro livro de Sam Wilson, toda a complexidade do cenário poderia facilmente servir de plano para novas histórias. É o que esperamos que aconteça.

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Sam Wilson nasceu em Londres e foi para Zimbábue ainda criança, estabelecendo-se depois na África do Sul. Em 2011, foi considerado um dos “Duzentos Jovens Sul-Africanos de Maior Destaque” e hoje trabalha como diretor de TV na Cidade do Cabo. O Assassino do Zodíaco é o seu primeiro romance.


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