Resenha: Livro “A Vida é Uma Tarde de Chuva”, de Carlos Henrique Abbud e Flávia Gonçalves

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Sinopse: Saiba que há um monstro escondido em Desídia. E ele se alimenta de vida interior.

Glenn está sozinha no mundo. Vive na estrada, entre pontos de partida e destinos igualmente irrelevantes. Imersa em seu nada, pega carona com um estranho escultor. Os dois sofrem um acidente, causado por um homem prestes a tirar a própria vida.

Ferida, ela é carregada para Desídia, um vilarejo misterioso e esquecido pelo tempo. Quando descobre que, ali, os sonhos, os laços e o amor cobram um preço alto demais, como sempre faz, decide fugir das pessoas, dos problemas, de tudo.

Mas sua vida pode mudar para sempre em uma tarde de chuva.

 

As Mazelas de um Monstro Interior

 

 

A Vida é Uma Tarde de Chuva, de Carlos Henrique Abbud e Flávia Gonçalves, utiliza de fantasia para desvendar a alma humana. Como se defender de algo que age de dentro para fora? Como se defender de algo entranhado em sua mente?  Estes são alguns dos questionamentos apresentados na obra. Na história, Glenn e Valiante então as voltas da ação de um monstro cujo ataque é vil e discreto. Assim, mexendo com a mente, se alimentando da vida interior das pessoas, ele age sem despertar suspeitas.

 

O leitor tem uma visão total sobre os acontecimentos de Desídia. Com isso, o suspense adotado sob a revelação do monstro que habita o local é restrito aos personagens. No lugar dele, a tensão diante do desconhecimento dos protagonistas quanto ao perigo presente – daquelas que dá vontade de entrar no livro para fazer a revelação –  impregna as páginas.

 

A relação à depressão, como nos antecipa o belo prefácio da psicóloga e professora Monara Eler Mendes, é perceptível ao observarmos as fáceis comparações entre os sintomas da doença e a atuação do monstro .

 

 

Os protagonistas, com a ambiguidade de suas características e comportamentos, se mostram extremamente humanos, e é fácil ter afeição por eles, com seus tormentos e questionamentos, e suas decisões a tomar.  A forma como encaram o mal que os cercam tem muita relação com a carga emocional que cada um carrega. Pois, na obra, os sentidos e sentimentos são de total importância.

 

A construção dos personagens é realizada de forma gradativa. Apesar de termos desde o início fortes indicativos de suas personalidades – a reação de cada um quanto ao acidente no início da narrativa é o primeiro deles – só com o desenrolar que entendemos realmente porque se comportam daquele jeito.

 

À primeira vista, Glenn e Valiante tem características muito diferentes. Ela está sempre esperando o pior, carrega nos ombros o peso de traumas do passado e dá preferência à solidão. Valiante, um artista um tanto excêntrico, tem sempre uma visão otimista, mesmo tendo de enfrentar situações complicadas, e dá valor as pessoas e a construção de relações de qualidade.

 

No caso de Glenn, a utilização de flashbacks foi fundamental para o maior entendimento das atitudes e emoções, e ainda de como acabou parando em Desídia. Já Valiante, tem suas razões e passado velados, salvo coisas que ele mesmo revela. Assim, em boa parte (ou quase toda) a narrativa se apresenta cercado de mistérios. O relacionamento que os dois estabelecem também é construído de forma natural.É interessante ver uma verdadeira concepção de confiança e amor ser gerada pela convivência e descoberta do outro.

 

A escrita objetiva, que nos apresenta com diversas reviravoltas uma história reflexiva e muitas vezes afligente, faz com que a leitura possua dinamismo, auxiliada ainda a cenas curtas e mudanças constantes de pontos de vista. Apesar de, como mencionado, ter destaque as emoções na narrativa, não podemos deixar de mencionar a imaginável e verossímil descrição das cenas de ação.

 

A escolha do título não deixa claro o conteúdo presente no livro,  causando uma possível estranheza inicial. Ela foi muito mais pessoal. Como revelado em entrevista exclusiva, os autores tiveram a ideia da história em uma tarde de chuva, de uma conversa um tanto filosófica sobre a vida. A seleção do nome, contudo, pode ser entendida ao decorrer da obra.

 

 

Escolher qual gênero se encaixa o livro é muito difícil. Temos o mistério do desconhecido, o drama das consequências das escolhas feitas, o terror de um perigo eminente e o lado sensível de querer o bem do próximo. A Vida é uma Tarde de Chuva é sobre escolhas, superação e esperança. Mas também sobre monstros, visíveis ou não, e como combatê-los.

 

 

 

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Flávia Gonçalves nasceu em Duas Barras, RJ, em 1979. Graduada em Música, pós-graduada em Artes Visuais. Professora da Rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro. Divide a vida com o esposo, Carlos Henrique Abbud. Gasta seu pouco tempo livre com literatura, filmes, séries e música, do clássico ao heavy metal. Idealizadora e Regente do projeto “Iniciação Musical”, em atividade desde 2007 em Escolas Estaduais e diversas instituições de ensino musical. É flautista desde a adolescência e escreve desde sempre. Publicou ainda o romance “Alice Black – Princesinha do Inferno” pela Editora Autografia.

 
 
 

Carlos Henrique Abbud nasceu em Nova Friburgo, RJ, em 1978. Graduado em Música, pós-graduado em Artes Visuais. Professor da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro, designer, artista plástico e músico. Atuou como professor no Curso de Licenciatura em Música da Universidade Candido Mendes, entre 2008 e 2010. Publicou ainda o conto “A Mulher de Vidro” na antologia “Tratado Secreto de Magia – Volume II”, pela Editora Andross, o romance “Alice Black – Princesinha do Inferno”, lançado pela Editora Autografia, o conto “O Livro do Amor” na coletânea “Oito Faces da Diversidade”, e o conto “O Sinal” na coletânea “Nova Friburgo – Contos, Crônicas e Declarações de Amor”, lançada no Festival de Inverno SESC Rio em 2017.

 

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