Criado por Francylene Silva - 23 de outubro de 2020 às 18:21
A coleção Abraqueerdabra apresenta uma nova obra. “12 Chamadas Perdidas”, de Bea Goés Cruz, reinterpreta a história da Cinderela com direito a baile de Halloween, fuga à meia-noite, pedaço de fantasia deixado para trás e… um Cinderelo.
Na história, Eliseu, um pré-vestibulando que divide seu tempo entre cuidar da casa, dos irmãos e ainda proteger a mãe do temperamento volátil do padrasto, deixa sua paixão platônica por Henrique enterrada por anos. Isso muda quando sua melhor amiga o convence a ir em uma festa à fantasia do dia das bruxas, onde ele conhece um príncipe um tanto excêntrico.
A coleção, criada pela Associação Boreal, apresenta uma série de releituras LGBTQ+ de fantasias clássicas. A primeira obra lançada foi “Armadilha para Lobos”, Maria Eloise Albuquerque.
Para conhecer mais sobre “12 Chamadas Perdidas”, conversamos com a Bea. Confira a entrevista:
Como surgiu “12 Chamadas Perdidas” ?
Cinderela é um dos meus contos favoritos, toda adaptação ou história baseada nele, já fico “opa!”. Quando, ano passado, surgiu a Boreal e começamos a decidir quem ia ficar com cada conto, já escolhi logo esse. Só depois comecei a pensar em como adaptar. Eu tinha uma ideia arquivada desde 2018, que eu já tinha intenção de ser minha primeira história com protagonismo LGBT+. Peguei ela e fui mexendo, aplicando pontos essenciais da trama de “Cinderela”, como o drama familiar e a festa, por exemplo.
A coleção Abraqueerdabra tem como proposta reinterpretar histórias clássicas trazendo diversidade. Como foi reimaginar Cinderela com protagonismo gay? Quais foram suas inspirações para criação da história?
Eis aí uma boa pergunta kk. Como disse ali em cima, 12 Chamadas (ou “Cinderelo” como costumo chamar de brincadeira) veio de uma ideia que eu já tinha arquivada, no qual o protagonista era gay. Não mexi nisso, apenas adaptei o resto da história ao redor dele, me perguntando tipo: como seria Cinderela se ela fosse um rapaz gay num contexto moderno e no ensino médio? Assisti muitas das adaptações e histórias baseadas no conto, até para pensar onde mais poderia diferenciar minha história das demais, mas sem perder a essência. Uma das minhas inspirações também foi uma festa à fantasia na qual fui em 2017, e um primo se fantasiou de Edward Mãos de Tesoura; eu precisava de um tipo de festa em que o “Cinderelo”, além de parecer irreconhecível, também deixasse algo para trás. Foi quando lembrei da fantasia do meu primo e veio a ideia de ser uma luva, em vez de um sapatinho, a ficar para trás.
O livro, além do protagonismo gay, ainda tem personagens bissexuais e ace, com ainda menos representatividade na literatura. Qual considera a importância de trazer diversidade para as histórias e quais cuidados deve se tomar ao escrever personagens LGBTQI+?
Considero muito importante, no entanto, como não tenho local de fala para tratar das vivências de um rapaz gay ou bi, não centrei nesse aspecto da história; a sexualidade é um detalhe dos personagens. Importante? Sim, com certeza. Mas não o que define eles. Ainda assim, contei com a leitura sensível de um primo em certos trechos, para garantir que não escrevi besteira ou fui homofóbica, mesmo sem a intenção. Quanto a personagem ace, baseei um pouco nas minhas próprias vivências.
E acho que é isso, sabe? Quando você não está escrevendo sobre uma vivência que não seja a sua ou que esteja muito familiarizado, é sempre importante contar com uma leitura sensível, para garantir que na sua tentativa de representar um grupo, não acabe incorrendo em reforçar um estereótipo prejudicial e/ou ofensivo.
Como é seu processo criativo?
Caótico(risos). Pelo menos, foi assim em grande parte da minha vida, desde que comecei a escrever, lá pelos 11 anos. Sempre fui do tipo de escritora jardineira, isso é, que ia escrevendo a história sem qualquer planejamento ou com um muito medíocre do tipo: sei mais ou menos o que tem que acontecer na história, sei o final que quero, mas o meio? Eu que lute! Eram várias e várias reescritas. Além disso, até um ano atrás eu costumava escrever em caderno, manuscrito mesmo. Tenho um livro que levei uns 6 anos escrevendo e reescrevendo por isso. Mas como eu não tinha todo esse tempo pra “12 CHAMADAS”, precisei aprender na marra a escrever direto no computador e a me planejar.
O que me ajudou muito nisso foram as dicas e cursos do Nano Fregonese, do perfil @escola_escreverviver no Instagram; foi como conheci a Estrutura dos 3 Atos e a fazer outline, o que misturei com o Método Floco de Neve. Aprendi também a fazer escaleta (que também é uma forma mais detalhada de outline) em planilha, esse foi o auge (risos) Mas depois que terminei de bater cabeça com todo planejamento, a história fluiu mil vezes melhor e vou aderir nos próximos livros.
O que também me ajuda são sprints de escrita. Coloco no temporizador uns 35, 40 minutos, e escrevo ao máximo nesse tempo. Uso o aplicativo Q10 no computador, que conta com o temporizador e além disso ocupa a tela inteira e tem barulho de máquina de datilografar, o que é perfeito para alguém que tem dificuldade de se concentrar, como é o meu caso.
Possui outras obras publicadas ou a publicar? Conte um pouco sobre elas.
A publicar, sim. O primeiro, do qual ainda não posso revelar muito, também vai ser pela Abraqueerdabra, escrito em parceria com a Maria Eloise (que escreveu “Armadilha para Lobos”). Sempre quisemos escrever juntas, desde a faculdade, e enfim surgiu a oportunidade.
O outro é o primeiro romance que terminei na vida, uma duologia chamada “Princesa Alissa”, sobre uma relutante herdeira ao trono que tem muitos ressentimentos com relação à Coroa, mas é puxada à frente do trono antes do esperado quando uma crise explode no reino. P.A foca muito no drama familiar, como em “12 chamadas”, mais do que política entre reinos, e um tiquito de fantasia “espiritual”. Ficou anos no wattpad e ganhou algumas premiações por lá, chegando a ir pra Long List do Wattys Award em 2018, mas agora o primeiro livro (“Tratado de Vidro”) passou por um processo de edição profissional e vou reescrever para que ele fique ainda melhor e mais representativo do que era originalmente. Ainda não tenho uma data, mas me planejo para o segundo semestre de 2021.
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