“Semente de Sangue”: primeiro romance de Gabriel Yared está em pré-venda

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Com publicação da Editora Corvus, a história repleta de folclore e cultura nortista, acompanha Carlos e Adriana, irmãos que retornam à sua cidade natal depois da morte do pai, de quem eles não tinham boas lembranças. O que deveria ser a última despedida do passado infeliz em Mazagão Velho, torna-se uma perigosa aproximação de fantasmas há muito esquecidos.
 

O livro, que conta com ilustrações originais de Giann Carlos Monteiro, pode ser adquirido em venda antecipada na plataforma Catarse até o dia 24 de junho. (AQUI)
 


 

Para conhecer mais sobre o livro, conversamos com o autor. Em entrevista exclusiva, Gabriel revelou detalhes da criação do livro e suas inspirações.
 

Confira:
 

Como surgiu Semente de Sangue? Como descreveria o livro?
 

Semente de Sangue surgiu de uma paixão e um desejo: sempre amei narrativas fantásticas que apontam para o terror e, como escritor amapaense, pra mim é um desejo afirmar minhas origens através da escrita. Assim, reuni esses dois aspectos pra contar uma história que se passa em Mazagão Velho, uma cidade do interior do estado e que tem uma forte tradição de preservar as manifestações culturais surgidas no século XVIII, durante o período colonial. O enredo segue a volta de dois irmãos para o enterro do pai, um homem distante e que não lhes inspirava muito afeto. O que deveria ser a despedida de um passado cheio de mágoas torna-se um mergulho em sombras de um passado bem mais profundo, que tem a pretensão de afogar e devorar todos os que restaram da família Guimarães, rondando-os com seus pesadelos mais terríveis. Esse meu primeiro romance é um drama familiar com toques de encantarias amazônicas e de uma força surgida de uma injustiça plantada com sangue.
 


 

Quais foram suas inspirações para criação da história?
 

A principal inspiração foi a história da invasão e do estabelecimento dos portugueses no Amapá. A Vila de Mazagão Velho foi transplantada da África para a América quando os colonos que lá viviam foram expulsos pelos mouros. Aqui no Amapá, os colonos fundaram a tradição da encenação de uma batalha que é realizada anualmente em homenagem a São Tiago, santo padroeiro da cidade. Nessa manifestação, ao contrário do que é documentado historicamente, os cristãos são os vencedores por conta das bênçãos dos santos. Foi com esse pensamento de questionar as narrativas de vencedores e vencidos que eu resolvi ambientar o meu livro, trazendo reflexões sobre como nossa sociedade ainda tem cicatrizes profundas abertas pelo colonialismo, e que vez ou outra se abrem, mostrando-se opressoras contra pessoas negras, LGBT, mulheres etc. O racismo é uma realidade que ainda persiste, e isso se vê em uma daos núcleos, Madeleine, que vê como os dois lados de sua ascendência, branca e negra, pesam em sua vida como pesaram na dos negros escravizados naquelas terras. Outro núcleo, o de Thiago e Manoel, é bastante inspirado em minha própria experiência como adolescente gay crescendo em uma sociedade de incertezas, muitas vezes hostil para com o diferente, trazendo o sentimento de que é difícil confiar até mesmo nas pessoas mais próximas de nós.
 

Conte um pouco sobre seu processo de escrita.
 

Antes de tudo, por querer me basear na história de Mazagão Velho, fiz uma pesquisa na documentação histórica e geográfica da formação da cidade. Mesmo tendo visitado-a anteriormente, através desses estudos eu pude entender bem melhor de que forma ocorreu a ocupação do Amapá e pude delinear melhor a ambientação do enredo. Quando iniciei a escrita, percebi que teria alguns problemas pela frente: eu costumo escrever narrativas mais curtas, como contos e noveletas, mas senti que era a hora de me arriscar em algo diferente. Por ser meu primeiro romance, eu apanhei bastante pra encaixar a estrutura, que exige uma exploração mais profunda dos personagens e dos ambientes. Foi um processo doloroso, pois quanto mais eu escrevia, mais a história gritava pra sair de mim, e eu me via pensando em como encaixar as cenas, sentimentos e cores durante todas as horas do meu dia. Foi um momento de aprendizado sobre como funcionam narrativas longas e sobre como elas exigem da gente. Ao final, acho que me senti como a Clarice Lispector: um pouco morto depois de terminar um romance. Mas, apesar do cansaço, me senti realizado ao extremo e feliz por essa “morte” ter me trazido tanto conhecimento sobre minha região, as realidades e vivências que coexistem por aqui e sobre mim mesmo.
 


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