Criado por Francylene Silva - 27 de maio de 2019 às 19:58
Uma obra cujo tema é suicídio nunca é uma tarefa fácil. A discussão sobre o retrato de temas delicados como esse é constante. Não raro há obras que romantizam ou utilizam dele apenas com o intuito de chocar.
Felipe Saraiça, em Para Onde Vão os Suicidas?, não faz julgamentos, e nem ao menos justifica ações, é direto de forma poética, é distante mesmo que emotivo, trazendo um livro tocante e reflexivo.
O livro é protagonizado por Angelina, uma jovem que após tentar cometer suicídio, é enviada para o submundo. Lá descobre na figura de Ixtab, a deusa Maia dos suicidas, a missão de evitar que outras pessoas dêem cabo das próprias vidas, para que enfim possa encontrar a morte desejada.
A narrativa objetiva, dividida em capítulos curtos, acompanha o encontro da moça com essas pessoas. Ao descobrir mais sobre a história delas, e sempre fazendo um paralelo com a sua, Angelina tenta encontrar uma saída para que mudem de ideia.
O distanciamento que a terceira pessoa estabelece, o narrador se põe apenas a relatar o que se passa, aparece como fundamental para que o autor não caísse nas armadilhas ao trato com o tema. Não apenas os pensamentos e sentimentos da protagonista são relevantes para a trama, como ainda os do que estão a sua volta e as pessoas que Angelina acaba por conhecer.
A construção dos personagens é intimista, o destaque é para seus sentimentos e atitudes, e com isso é fácil sentir empatia, algo essencial para a narrativa. Ao discorrer sobre a personalidade e motivações destas, Saraiça desmistifica diversos dos estereótipos associados a suicídas e promove ao leitor a reflexão sobre vida, morte e como lidar com sentimentos complexos.
Assim como realizou em sua primeira obra, Palavras de Rua, Saraiça usa da poesia como forma de aproximar relatos e ainda de descrever passagens mais delicadas com a responsabilidade e bom gosto necessários. Uma obra consciente da importância de falar sobre suicídios e impecável em sua execução.
Felipe Saraiça nasceu no Rio de Janeiro, mas mora atualmente em Niterói . No final de 2015 participou de um projeto chamado Imaginar/Contadores de Histórias, e com ele teve a oportunidade de subir o Morro da Babilônia e ler para as crianças carentes da comunidade. Esse projeto o fez ver a literatura com outros olhos e como os livros podem ajudar as pessoas a fugir da realidade que se encontram. “Palavras de Rua” foi sua estreia literária, sendo “Para Onde Vão os Suicidas?”, seu segundo livro.
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