Raphael Miguel apresenta seu novo livro, “Planeta Brutal”

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Raphael Miguel em pouco tempo adquiriu muita experiência no mundo literário. Começou com o despretensioso O Livro do Destino, passou pelo suspense psicológico com 5, mostrou o Ácido e Doce de um romance urbano, isso fora as antologias. E agora, desponta com a ficção científica pós-apocalíptica Planeta Brutal.

 

No livro, os eventos que culminaram no Primeiro Dia assolaram a face do Planeta Terra. Com a população reduzida drasticamente e com os efeitos das extinções de espécies e do aquecimento global, os sobreviventes tiveram que se adaptar a uma nova realidade… uma realidade feia, cruel, visceral, BRUTAL.

 

Em meio ao caos, após ter vivenciado o lado mais horrendo dos remanescentes, uma mulher leva seu pequeno filho pelo deserto sem fim na intenção de encontrar um lugar melhor para sobreviver, mas o perigo espreita pelos cantos e cada passo pode ser mortal.

 

Em uma entrevista completa e sincera, o autor revelou detalhes sobre a obra e ainda sobre sua vida literária, que diga-se de passagem, é bem agitada. Confira:

 

Como surgiu “Planeta Brutal”?

 

Bem, a verdade é que toda essa conversa sobre o fim do mundo me fascina (e muito). A humanidade sempre tentou adivinhar como tudo irá acabar e esse tipo de dúvida se perpetua, sabe. E é um assunto que nunca “sai de moda”. Quer dizer, até mesmo as mais antigas civilizações e religiões trazem esta preocupação. E foi através deste fascínio que surgiu a espinha dorsal do Planeta Brutal. A preocupação com o apocalipse move muitas pessoas e isso é notório na atmosfera do livro.

 

E não há apenas a preocupação com o fim do mundo, este fato acontece. A Terra que conhecemos já não existe mais e somos apresentados a um verdadeiro caos. Dentro deste caos, os sistemas e classes sociais são extintos e é a partir daí que o enredo passa a se desenvolver. Planeta surgiu exatamente desta premissa. O que aconteceria com uma pessoa que precisa sobreviver em meio a um cenário desfavorável, repleto de figuras perigosas e ainda proteger alguém? O leitor é apresentado à protagonista, uma mulher que deve cuidar de si e do filho pequeno.

 

E, por outro lado, temos diversos personagens instigantes que fazem a história girar. Pode até parecer que há um tom cruel na forma como lidam com as situações, mas alguns deles não têm qualquer escolha. Todos estão dentro de uma luta constante por sobrevivência.

 

Neste aspecto, o livro faz jus ao título “Planeta Brutal” e, embora tenhamos alguns aspectos fantásticos durante a narrativa, ele é essencialmente humano. Honestamente humano, eu diria. Durante toda a criação do enredo, como autor que apenas transcreve a ação e sentimento de seus personagens, tentei imaginar como seria estar em uma realidade tão vil. Imaginar como seria o fim dos tempos e ainda como seria sobreviver ao apocalipse foi o grande exercício que fez surgir Planeta Brutal. E já que mencionei a justificativa para o título, também devo ser justo e dizer que seu batismo foi uma forma que encontrei de homenagear um grande ídolo, o roqueiro lendário Alice Cooper. O título do livro é uma alusão ao álbum homônimo de 2000 (Brutal Planet). Algo que faço questão de deixar explícito na página de agradecimentos no livro. E assim como Alice canta um destino cruel (e atual) para a humanidade, procuro trazer minha própria versão deste destino.

 

“Nos últimos dias havia uma crescente boataria de que o mundo iria acabar. Aqueles, que nisto acreditavam, eram tidos como tolos, fanáticos, ou mesmo loucos.” – Página 17; Prelúdio.

 

A história é volume único ou terá uma continuação?

 

Planeta Brutal foi pensado e escrito para ser um volume único e derradeiro. Porém, existe muita riqueza no universo criado para o desenrolar da trama. O enfoque é a sobrevivência de um determinado grupo de personagens limitado a um cenário específico dentro de certo período de tempo. Somos apresentados a um deserto que se formou em decorrência do aquecimento global.

 

Mas este é apenas um aspecto, uma perspectiva própria. Ou seja, há muitos outros mistérios por aí. Lugares que não foram apresentados na narrativa, personagens ainda desconhecidos e várias histórias originais possíveis. É por isso que não poderia descartar revisitar o que foi inaugurado no Planeta Brutal. Não digo “continuação é possível”, mas até poderia gerar uma série, vamos deixar com que o tempo e a recepção do público decidam o futuro desta franquia. O que posso adiantar é que gostei muito de trabalhar esta construção e se algum dia voltar para aquele cenário farei com grande prazer.

 

“Deve conhecer os boatos, pequena. Ali, seguindo a linha pelo sudeste, há uma verdadeira vastidão desértica. Dizem ser um solo infértil, território onde poucos se arriscam a desbravar.” – Página 76; Capítulo 10 – A Rosa.

 

Quais foram as inspirações para a criação de um mundo distópico?

 

Acho que a resposta para esta pergunta está ligada diretamente à resposta da pergunta um. Posso citar como inspiração o fascínio que o tema a respeito do fim do mundo exerce tanto sobre mim quanto sobre a humanidade como um todo. E a danação do futuro é algo que, certamente, traz grande inspiração. Além das referências que já mencionei, posso dizer que me inspirei também em outras mídias que trouxeram esta mesma premissa, como “O Livro de Eli”, “Mad Max”, “Eu sou a Lenda”, entre outros.

 

Brincar com distopia é um pouco perigoso, pois mesmo levando em consideração tratar-se de um braço da fantasia, ela pode ser mais próxima da realidade do que gostaríamos.

 

“Nós estamos onde começou o fim do mundo, Ike. Lembra-se do aquecimento global? Nós vivemos o auge do fenômeno que transformou o lugar onde estamos em um imenso deserto. Mervil diz que havia uma floresta tropical onde agora é um deserto! Dá para acreditar que isto aqui foi uma floresta tropical?” – Página 83; Capítulo 11 – A Ronda.

 

 

Foi um ano bem agitado, é o terceiro livro que lançou apenas em 2017. Como é o processo criativo de suas obras e quanto tempo, em média, demorou para escrever os livros?

 

Parece loucura, mas sinto como se os enredos de meus projetos simplesmente surgissem de algum lugar. Parece que sou um mero instrumento para passar as histórias para o papel. O processo  criativo é a melhor parte de escrever, é aquele primeiro flerte, o namoro desavergonhado, sabe? Quando tudo é novidade e estou completamente apaixonado por uma nova história. A cada vez que escrevo, este sentimento se renova e ao me permitir flutuar por diversos gêneros, deixo a paixão queimar. Foi assim este ano todo. Ácido & Doce, 5 (CINCO) e Planeta Brutal… tão diferentes entre si e tão queridos.

 

O que mudou para você, como escritor, desde O Livro do Destino?

 

Muita coisa mudou desde O Livro do Destino. Acho que a principal mudança, e pela qual mais sou grato, é que consegui cativar um determinado público que vem acompanhando minha trajetória seja por qual gênero ou estilo literário for. Sou da opinião de que o autor moderno deve ser ambivalente e quando os leitores acompanham todo esse dinamismo é sinal de que está no rumo correto.

 

É uma grande honra para mim observar a fidelidade de quem me acompanha, seja através de uma fantasia contemporânea, um romance urbano, suspense sobrenatural ou distopia pós-apocalíptica. Acho que posso me considerar um afortunado. É por isso que coloquei esta menção nos agradecimentos do Planeta Brutal.

 

Outra grande mudança foi a minha postura diante dos desafios. Com o tempo, passei a perceber que os desafios surgem na vida de um escritor para serem vencidos. Se surge a oportunidade de se desafiar, por que correr? E isso é extremamente saudável. E, por fim, há o amadurecimento da escrita. Não sou um cara novo, mas estou na literatura faz pouco mais de um ano. É natural que haja evolução na narrativa e no modo de escrever. E tudo aponta para uma ousadia cada vez maior a ser trabalhada em futuros projetos.

 

“Costumo dizer que ser lido é a maior honra na vida de um escritor e isto é verdade. A cada palavra de incentivo, interesse, leitura e compartilhamento, a vontade de vencer essa batalha cresce.” – Página 6; Agradecimentos.

 


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