João Pinheiro fala sobre BARRELA, obra de Plínio Marcos adaptada em quadrinhos

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“Um xadrez onde são amontoados os presos que aguardam julgamento. Ao abrir o  pano, todos dormem. De repente, Portuga desperta com um pesadelo”

 

Assim é descrito o cenário inicial de Barrela, peça do dramaturgo Plínio Marcos escrita em 1958.  A obra de estreia do autor “maldito”, assim como outros de seus trabalhos como Navalha na Carne e Dois Perdidos, sofreu com a censura. Em suas narrativas, a recorrência de temas como homossexualidade, marginalidade, prostituição e violência.
 

A história de Portuga, Tirica, Bereco, Louco, Bahia e Fumaça ganha adaptação pela primeira vez em quadrinhos nos traços do quadrinista João Pinheiro. Lançado pela Brasa Editora, com apoio do Proac Quadrinhos, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, Barrela denuncia o descaso e a violência do sistema carcerário.
 

Em entrevista exclusiva ao Mais QI Nerds, o quadrinista contou sobre como foi o processo criativo da adaptação e ainda falou sobre a sua relação com as obras de Plínio Marcos. Confira: 
 

“O teatro pede toda uma infraestrutura, atores, diretor, iluminação, cenografia, além da plateia e de apresentação única. Os quadrinhos são uma linguagem única e os desafios são outros, tão complexos quanto, mas que estão na responsabilidade de um único autor.”

 

É a primeira vez que Barrela é adaptada para quadrinhos. Como surgiu o interesse em contar essa história? Na sua opinião, qual o diferencial da arte dos quadrinhos em contar ela?
 

A possibilidade de adaptar Barrela para os quadrinhos veio com o convite do filho do Plínio, o Kiko Barros, que por volta de 2017 me escreveu falando da ideia antiga que ele tinha de transpor a obra do pai para os quadrinhos. Como leitor do Plínio Marcos de longa data, fiquei empolgado e a partir de então começamos a pensar em como viabilizar a adaptação. Nesse processo o Lobo se juntou a nós e a aprovação no PROAC Quadrinhos do Governo do Estado de São Paulo foi o impulso que faltava para a realização do trabalho.
 

Contar essa história em quadrinhos é completamente diferente de encená-la no palco. O teatro pede toda uma infraestrutura, atores, diretor, iluminação, cenografia, além da plateia e de apresentação única. Os quadrinhos são uma linguagem única e os desafios são outros, tão complexos quanto, mas que estão na responsabilidade de um único autor.  
 

 

 

Lembra como foi seu primeiro contato com as obras de Plínio Marcos? O que significa para você levar para a nona arte, em seus traços, uma das histórias do autor? Tem projetos para adaptar outros textos dele?
 

Conheci o primeiro texto do Plínio na adolescência, quando assisti uma apresentação amadora de “ Quando as máquinas param” . Um amigo fazia o personagem Zé na peça. A gente se conhecia das partidas de futebol e depois do curso de quadrinhos da Oficina Cultural Alfredo Volpi. Através dele conheci os outros títulos do Plínio e passei a emprestar seus livros da biblioteca.  Mais tarde, consegui outros títulos dele nos sebos do centro de São Paulo, ouvi o disco de samba, assisti as adaptações para o cinema cada vez mais fascinado pela sua figura e sua obra. Plínio foi muito importante na minha formação artística e como cidadão. Adaptar uma obra sua, depois de todos esses anos mergulhado em seu trabalho, foi uma honra e, ao mesmo tempo, um imenso desafio. Os orixás conspiraram para esse encontro. Sobre adaptar outros textos dele, gostaria de ver outros autores fazendo isso.
 


 

 

 

Barrela é uma denuncia do descaso e da violência do sistema carcerário brasileiro. Além da obra em si, houve outras fontes de inspiração na produção do quadrinho?
 

Sim, nos meus quadrinhos  sempre procuro me abastecer do maior volume de informações possível antes e durante o processo de trabalho. Para o Barrela, assiste muitas séries e filmes sobre cadeia, além de literatura sobre o tema na tentativa de estabelecer um intertexto entre todas essas referências.
 

 

Pode nos falar um pouco como foi o processo criativo de Barrela?
 

Inicialmente foi preciso criar uma espécie de “roteiro de imagens” para a adaptação – escrito mesmo, com uma divisão em sequências e páginas. Pensamos em 64 páginas, mas na etapa seguinte, que foi de fazer o rafe das páginas, senti a necessidade de quase dobrar essa quantidade de páginas.  Porque quando você começa a testar visualmente as sequências, o ritmo, as viradas de página, é que consegue realmente visualizar o que àquela narrativa específica pede. Tendo vencido essa etapa, comecei a definir o estilo que usaria para toda a história e essa foi a fase de testar diversas possibilidades até encontrar uma que me parecesse eficaz e ao mesmo tempo sustentável em todo o álbum.
 

 

Você está atualmente trabalhando em um novo quadrinho? Pode nos contar um pouco sobre o que podemos esperar de seu novo projeto?
 

 

Sim, estou trabalhando em uma HQ chamada “A Tragédia dos Cães”, que iniciei em 2017 e só nesse ano conseguirei terminar – oxalá me ajude. A história narra a história de dois amigos,  moradores da periferia de São Paulo, vivendo na década de 1990. É um retrato da minha geração que eu venho querendo fazer há muito tempo, mas que só nos últimos anos tomei coragem de colocar no papel. Em paralelo a isso, também estou publicando uma tira de humor e aventura chamada “Wellington jacaré” no instagram da Borduna Produções junto com outros artistas brasileiros. 
 


#Quadrinhos   ; ; ; ; ;


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