“O silêncio não é simplesmente a ausência de som”. Alain Corbin abre o livro “A História do Silêncio” com essa frase. Retratando diversas das interpretações e associações sobre o silêncio, desde sua condição com aspectos religiosos e transcendentes até suas relações com luto, ódio, desejo e amor.
Quando pensamos em narrativas sequenciais, as histórias sem falas remetem à origem da arte. Artes rupestres, criações artísticas no período pré-histórico, apresentavam cenas refletindo cotidiano e crenças antes mesmo da criação da escrita.
Hoje, o que podemos observar é que a necessidade de comunicação se transfigura em demanda pela fala. Mas, assim como as palavras, o silêncio também transmite informações e sensações. Na 19ª edição da Revista Café Espacial, que pela primeira vez conta apenas com quadrinhos, ele aparece como elemento primordial. As narrativas mudas exploram as infinitas possibilidades da utilização do silêncio e refletem o quanto dele podemos desvendar.
O silêncio que desaprova, que confessa, que muda o ritmo das coisas, que transpõe tempo e espaço e que permite alcançar sensações. O silêncio de descobertas, de olhares extasiados, de introspecção. Aquele antes do fim e do começo, aquele da desordem e do temor.
Os desafios da ausência de balões e textos passeiam com a liberdade que a amplitude que histórias mudas podem conter. Mais do que cair na máxima “uma imagem vale mais que mil palavras”, se permita pensar nesse silêncio como elemento, como uma das características que essas histórias apresentam para que o leitor chegue ao ponto da narrativa proposto pelo autor. Não é falta, silêncio é preenchimento, é presença.
Sem um texto como base, a forma como essas histórias conseguem evidenciar outros aspectos narrativos tiram o leitor da zona de conforto de interpretações óbvias. O ponto de partida é amplo, tal como caminho a percorrer. Explore, busque, sinta, porque como pontuou Shakespeare ao final de Hamlet: “O resto é silêncio”.
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Referências:
CORBIN, Alain. A History of Silence: From the Renaissance to the Present Day, 2018.
#Quadrinhos
Café Espacial 19; Germana Viana
