“Chão de Estrelas”: O poder transformador que vem dos céus

“Ouvir Estrelas

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo,

Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite,

enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas.” 
 

Olavo Bilac
 

Chão de Estrelas, livro de Bianca Sousa, Camila Pelegrini e Martha Ricas, narra três histórias interligadas sobre mulheres que encontraram nos céus, seus destinos. 
 

Camila Pelegrini apresenta uma relação de mãe e filha, cuja violência marcou suas vidas. E os reflexos disso que aparecem como amarras na vida de Gisele.  
 

Já Martha narra a vida de Selene, na Grécia de 480 a.c.. Criada por um observador de estrelas e astros e com um passado oculto, a jovem é tirada à força de sua casa. 
 

Estela é a protagonista do conto de Bianca Sousa. Ela é uma jornalista, cujo trabalho é perseguir e descobrir segredos da vida de famosos. Em uma dessas investigações ela é enviada para a Grécia, onde descobre que um cometa em breve passará pelo lugar. 
 

As três histórias têm em comum o protagonismo de mulheres fortes e decididas que estão passando por um momento difícil e que, em meio a tentar contornar a situação, refletem sobre seus papéis na sociedade, suas possibilidades e escolhas. Tudo isso gira em torno da representação do céu nas vidas delas. 
 

Apesar da autoria compartilhada, o livro tem um senso de unidade que o envolve, mas que  usa da utilização de estilos diferentes para auxiliar representações da diversidade retratada, de personalidade e tempo distintos. Isso é costurado por uma perspectiva criativa, a do corpo celeste que narra e acompanha essas histórias.
 

Por retratar casos de violência doméstica, sexual e machismo, algumas cenas podem ser desconfortáveis para alguns leitores. Apesar do bom senso na forma como são descritas. 

O livro é sobre as lutas de mulheres, que atravessam séculos. Dos obstáculos do cotidiano e de toda a pressão em ser mulher, com as adversidades características de cada tempo. Mas também é sobre lutar pelo que acredita e pelo que quer, é sobre força e poder.