Luzia, quadrinho de Débora Santos e Zé Wellington, é uma adaptação do romance “Luzia-Homem”, obra regionalista do escritor Domingo Olímpio publicada originalmente em 1903, que apesar de sua importância não tem tanta visibilidade atualmente . Passada durante uma grande seca que aconteceu de 1877 a 1879, no interior do Ceará, a obra acompanha a retirante Luzia que, por ter grande força física e coragem, ganha o apelido de Luzia-Homem.
A protagonista é uma entre uma multidão de retirantes que vivem em condições precárias, trabalham arduamente para ter o que comer e sonham com uma vida melhor. Suas particulares, como seus músculos fortes e seu tamanho imponente, pelos traços de Débora ganham humanidade. Em nenhum momento Luzia é retratada como a aberração que os demais personagens lhe vêem e esse trato mais delicado à personagem aparece ainda ao retirar do título a denominação que na trama é sinônimo de ofensa. Em dar uma outra camada à história, a visual, a exploração desvela ainda mais questões da narrativa, indo além da perspectiva do narrador original.
Isso não quer dizer que a história se modifique totalmente, o roteiro de Zé Wellington segue com fidelidade boa parte da trama. Mas uma boa adaptação consegue transportar o original e uni-lo aos elementos que a outra mídia possibilita, e isso Zé consegue fazer com primor. Além de questões datadas da narrativa, com entendimento de seu contexto, podem ser adaptadas.
Sem utilizar de narrador observador, a história tem diálogos precisos, – cujos termos mais distintos são explicados em um glossário – que conseguem empregar um bom ritmo. Em meio a eles, algumas passagens o roteiro deixa a cargo da expressividade dos traços de Débora a atribuição da carga dramática necessária, como acontece no desfecho da trama. Os lindos quadros se unem ao amarrado texto resultando em uma obra sensível e potente.
#Quadrinhos
Editora Draco; Luzia
