Entrevista: Pablo Praxedes conta detalhes sobre “A Botija do Fanstasma”

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A coleção As Bruxas do Meu Quintal, de Pablo Praxedes, ganha seu segundo volume com A Botija do Fantasma. Passado em 1920, a história traz uma personagem da primeira história durante sua juventude, em meio ao retorno do bando de Lampião. 
 

Para conhecer mais sobre A Botija do Fantasma, incluindo as questões culturais e históricas abordadas, conversamos com o escritor Pablo Praxedes. 
 

 

Como surgiu A Botija do Fantasma?
 

Então, não sei como exatamente as peças se juntaram na minha cabeça. Depois de lançar “A Poção do Amor” eu queria muito abordar as questões culturais e históricas da minha cidade em alguma história desse universo, cheguei até comentar sobre isso na Nota do Autor presente em “A Botija do Fantasma”. Essa vontade foi crescendo dentro de mim e aos poucos fui pesquisando com mais afinco a história da minha cidade, até que me deparei com a lenda urbana da Botija de Jararaca, que eu já tinha ouvido falar há muito tempo atrás, mas que acabou se perdendo na minha cabeça. Então, certo dia uma coisa ligou na outra e tive a ideia de colocar Salete em 1928 enfrentando os dilemas da adolescência e os dilemas sociais impostos pela passagem do bando de Lampião na sua cidade, agregando a isso tudo a história base da lenda urbana de Jararaca. Acredito que foi dessa mistura e dessa vontade de contar um pouco da história da minha cidade que A Botija do Fantasma tenha nascido. 


 


A história acontece em 1920. Como foi escrever uma história com representatividade passada nessa época? Quais conhecimentos buscou em relação ao período?
 

Foi desafiante! Inicialmente eu me peguei questionando se conseguiria retratar e abordar cenários e a realidade de uma época que temos pouco conhecimento. Não é como se eu fosse retratar a década de 1980 nos Estados Unidos, digamos, com infinitos livros, filmes e séries que poderia usar como referência, então foi desafiante. Primeiro eu tentei buscar referências visuais da minha cidade na época, como esse evento (a expulsão do bando de Lampião da cidade) é bastante celebrado por aqui, temos espetáculos ao ar livre, matérias e memoriais, então essa questão do clima da história não foi tão desafiante, diferente dos cenários. Para os cenários eu ancorei em uma obra em específico, O Auto da Compadecida do Ariano Suassuna. Eu amo o filme e li a peça pela primeira vez durante o processo criativo, então me ajudou muito a trazer essa questão de cenários, diálogos e costumes da época. Além disso, eu pesquisei vídeos, reportagens e outras coisas sobre a época aqui no meu estado e cidade. 
 

Já a questão da representatividade na década de 1920 não foi tão desafiante, eu quero sempre retratar personagens LGBTQIA+ em minhas histórias independente da época delas, então, com isso em mente o mais difícil foi dizer com todas as letras que meu personagem era bissexual sem ser anacrônico. O termo não existia na época, então foi desafiador. Contei com a leitura sensível incrível do Lucas Vieira, que também é autor, e ele me ajudou muito nessa questão.
 

Conte um pouco sobre seu processo criativo.
 

Meu processo criativo é meio caótico (risos). Mas, digamos que funciona da seguinte forma: Geralmente quando tenho uma ideia ela surge já com começo definido na minha cabeça, eu gosto muito de inícios então é uma parte que para mim tem que estar muito boa para que eu continue a história. Eu gosto de sentar e escrever o que seria o primeiro capítulo antes de planejar o restante da história. Acho que o primeiro capítulo dá o tom, sabe? Ele que dita como a história vai caminhar. Logo em seguida eu busco referências de livros, filmes ou séries com o tom e/ou temas parecidos, para criar um moodboard. Enquanto isso deixo esse primeiro capítulo esfriar um pouco e retorno depois para estruturar o restante da história. Como até então escrevi histórias curtas, eu geralmente esboço pequenos resumos de cada capítulo da história, nada muito detalhado. Depois disso é surto e atrás de surto (risos), até concluir a história. A primeira versão é sempre muito crua e eu tento não me cobrar (tanto), mas escrevo já sabendo que muita coisa pode mudar. Acredito que é isso! 
 

A trama apresenta Saleta, personagem presente em Poção do Amor, em tenra idade. Quais das narrativas foi pensada primeiro? Há possibilidade de ela figurar ainda outras histórias da série? 
 

Preciso ser sincero aqui (risos), “Poção” foi pensada primeiro! Minha intenção com essa história foi construir um imaginário acerca da personagem que queria apresentar, a Salete. A Poção do Amor surgiu justamente para que eu apresentasse essa personagem misteriosa de uma forma que o foco da história não fosse nela, para não dar muitas pistas sobre a personagem. Depois disso, eu construí a história de trás pra frente, digamos. Não é algo que recomendo, mas foi interessante. Eu sempre quis contar a história de Salete e sua relação com a magia e o Carnaubal, então digamos que sim, Salete vai figurar todas as histórias que se passarem nessa linha do tempo. Ela é a protagonista desse universo. 
 

Há previsão de quantas histórias completarão a série Bruxas do Meu Quintal?
 

Sobre isso ainda não posso cravar nada, pois estou em um momento de “respiro” do universo e todo meu planejamento com ele está em pausa. A ideia inicial era construir algo em torno de três ou cinco histórias curtas, então não deverá passar disso. A terceira história já está em fase inicial de planejamento e acredito que deva ser lançada no começo do segundo semestre. Enquanto isso, estou escrevendo meu primeiro romance que apesar de não ser parte da série também é uma fantasia urbana, dessa vez algo mais contemporâneo. Salete ainda tem muitas histórias para nos contar e estão todas esperando sua vez, esse universo cresce mais a cada vez que penso nele, então, vamos ver até onde “As Bruxas do Meu Quintal” irão nos levar. 


#Livros   ; ;


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