Criado por Francylene Silva - 12 de agosto de 2020 às 18:53
Heroínas ou vilãs? Seguem ou quebram as regras? Você nunca sabe o que esperar das Caóticas Neutras.
Brincando com um dos alinhamentos mais imprevisíveis do RPG, a dupla Rodrigo Ortiz Vinholo (roteiro) e Mari Rolin (arte) apresenta histórias que exploram essa ambiguidade com humor e boas referências.
Para conhecer mais sobre a webcomic, conversamos com os dois, que revelaram suas maiores influências e processo criativo.
Como surgiu Caóticas Neutras? Como definiria a webcomic?
[Mari] A maior parte dos projetos em que trabalhamos juntos surge meio que de conversas sem nenhuma conexão com o projeto em si. Eles vêm de um comentário, ou uma piada, ou uma viajada teórica qualquer. Neste caso específico o Ro me chamou um dia e disse que tinha essas ideias para sobre personagens de alinhamento perfeitamente ambíguos, mais na pegada RPG. Como eu adoro esse tipo de coisa e ele sabe, topei na hora. Acho que eu definiria todo o processo criativo e a webcomic em si como o tema que aborda: você nunca sabe o que esperar, rs.
[Rodrigo] Eu e a Mari estávamos há algum tempo conversando de fazer um quadrinho mais focado em histórias curtas. Temos outros roteiros na gaveta e outros projetos em andamento, mas são para histórias focadas em capítulos longos e com enredos bem fechados. A Mari tinha falado comigo sobre caminhos para webcomics e aí fiquei brincando com algumas ideias, até que essa surgiu. A primeira história foi realmente a primeira cena que pensei, e assim que a Mari viu, já começaram a surgir várias outras derivadas dessa. A Mari definiu bem, mas eu adicionaria também que Caóticas Neutras é a história que tem personagens mais parecidas com o que jogadores realmente fazem em mesas de RPG (ou assim pretendemos). Convenhamos, ninguém liga para os bonzinhos, e brincar de vilão o tempo todo cansa.
Como é o processo criativo?
[Mari] O Ro me manda audios de Whatsapp de dez minutos com divagações criativas, rs. Brincadeira, mas é. Quer dizer, às vezes. O roteiro fica na maior parte por conta do Ro e eu sirvo de espelho para rebater algumas ideias. E eu faço toda a arte e ele serve de espelho daí, apontando o que acha que ficou confuso ou o que mudou na história. A gente se conhece há décadas e é um processo criativo que funciona bem para a gente, somos pessoas meio individuais então a colaboração acaba acontecendo na parte da edição.
[Rodrigo] A parte do WhatsApp é verdade mesmo. Sou praticamente um podcast. As ideias surgem tanto de brincadeiras com clichês de RPG quanto de coisas que queremos ver em histórias. O próprio conceito geral “Caóticas Neutras” veio da minha vontade de ter personagens principais com esse alinhamento, e o fato de ser uma Barda e uma Necromante veio da paixão por classes de personagem mais incomuns, especialmente em papéis de protagonismo. As histórias futuras explorarão vários tipos de personagens, sempre com esse “quê” de humor quase auto-referencial. Não é muito spoiler, mas já adianto que teremos vampiros, slimes e muitas coisas fofas e outras horríveis, mas tudo quase sempre engraçado.
Em alguns casos, o processo criativo realmente partiu de caprichos, mesmo, de coisas que queríamos colocar de coração na história porque nos faziam rir, e aí discutimos até que fizesse sentido. Nas minhas anotações para capítulos futuros, vários deles em construção envolvem “brincar com tal piada de tal jeito”, ou referências a clichês, ou até a outras obras. Claro, o processo aqui é tornar tudo coerente com o mundo que estamos fazendo e simultaneamente conseguir brincar. A história terá continuidade e desenvolvimento, mesmo que tenhamos muito espaço pra brincar.
Quais as maiores influências para criação da história?
[Mari] Na concepção dos personagens foi definitivamente histórias tradicionais de RPG e fantasia. Algumas coisas vêm de campanhas que realmente jogamos (não posso falar mais para não dar spoiler). Outras vezes surgem de situações hipotéticas absurdas. Em termos de referência para concepção, pegamos muito do universo de fantasia em geral, de livros a games (Tolkien, D&D, The Witcher). Eu particularmente cresci lendo Holy Avenger, então acho que a minha referência para esse tipo de história tem um pouco da arte da Erica Awano também. Adicionamos a isso as nossas próprias referências de animação e quadrinhos que, apesar de não ter nenhuma relação com esse universo, nos influência enquanto criadores.
[Rodrigo] Tudo isso que a Mari falou tá valendo pra mim, exceto Holy Avenger, que confesso não ter lido. Mas RPGs, quadrinhos e games explorando esse universo ajudam muito. Existe um webcomic humorístico adulto – e é adulto MESMO, crianças, então cuidado – chamado Oglaf pode ter sido uma influência direta, pela ousadia de brincar com os clichês. Groo, de Sergio Aragonés, também me influenciou muito pela ideia de um herói não ser heroico, e de podermos realmente forçar um pouco que seja os moldes do medieval-fantasia. As pessoas se apegam muito ao que foi construído por D&D, então ao mesmo tempo usamos como trampolim e mapa, mas também como meio de saber que caminhos diferentes podemos explorar.
Qual é a periodicidade da HQ?
[Mari] Por enquanto o objetivo é publicar talvez mensalmente. Tanto eu como o Ro temos outros trabalhos e projetos pessoais, então fazemos o possível para mantermos uma certa periodicidade. Gostaria muito que com o tempo pudéssemos dedicar mais tempo a essa e outras séries, mas por enquanto é um sonho um pouco distante. 🙂
[Rodrigo] Se eu pudesse clonar a Mari ou usar algum feitiço de controle mental eu super faria acontecer semanalmente, mas infelizmente não dá. Mas já temos roteiros para várias histórias, então fiquem de olho e assinem lá no Tapas para receberem as atualizações.
Vocês tem planos para um publicação física?
[Mari] A possibilidade não está descartada, mas ainda é muito cedo para confirmarmos. Inicialmente pensamos em manter como webcomic, mas como não gostamos de fechar portas e janelas, as páginas são desenhadas pensando na possibilidade de publicação.
[Rodrigo] Quando for rolar alguma versão física, devemos fazer em um esquema compilado. Como as histórias são curtas e ainda estamos construindo público, não compensaria fazermos edições solo por aventura.
#Quadrinhos Entrevista; Mari Rolin
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