Traumas, ausências e aparências em “Entre Cegos e Invisíveis “, de André Diniz

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Uma super-lua é esperada, um enterro acaba de ocorrer, o ano é 1971.  Este é o cenário de Entre Cegos e Invisíveis, quadrinho do aclamado André Diniz, lançado no Brasil pelo selo Café Espacial.
 


Assim como realizou em Matei Meu Pai e Foi Estranho, André Diniz vai desenrolando a história aos poucos, em uma crescente. É como se a cada página o leitor estivesse mais e mais próximo, até o ponto de ficar de certa forma desconfortável, tal como quando presenciamos algo que não nos foi permitido ver.
 

Entramos na intimidade de uma família em um momento de fragilidade, após um enterro. E assim, traumas, ausências e rancores são revelados. Tudo isso no curto período de tempo de uma viagem de carro. 4 pessoas. Jonas e Leona, que acabam de enterrar o pai, a esposa de Jonas e um desconhecido estrangeiro para o qual dão carona, mas que não entendem uma só palavra. Cada um tem de confrontar questões próprias e de suas relações. Assim, com feridas sendo remexidas, tomamos conhecimentos do que ocorreu até culminar naquele ponto.
 

Forte, a narrativa passada durante a ditadura militar que o Brasil enfrentou entre 1964 e 1985, em muito tem influência do período, sendo de extrema importância para a história, tanto nas relações entre os personagens como ainda na maneira deles de se portar. O momento é opressor, e assim como ocorre com frequência em situações extremas, há aqueles que não querem ver e aqueles que não são vistos.

 

O característico traço estilizado de André Diniz utiliza de detalhes para contextualizar a narrativa e apresentar personagens críveis e ambíguos. Entre recordações incómodas, amarguras e violência, cada qual vai sendo despido das aparências e revelando quem são de verdade. E a verdade pode ser brutal.
 

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ANDRÉ DINIZ é roteirista e ilustrador de quadrinhos. Publicou mais de 30 títulos por diversas editoras brasileiras, tendo sido publicado também na França, Reino Unido, Polônia e Portugal, país onde vive hoje. Desde 2000, recebeu 19 prêmios das principais premiações brasileiras de quadrinhos. Entre seus trabalhos mais conhecidos estão 7 Vidas, Morro da Favela, O Idiota (indicado ao prêmio Jabuti) e Malditos amigos.


#Quadrinhos  


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