Bruxa detetive em investigações sobrenaturais: Carol Chiovatto apresenta a fantasia urbana “Porém Bruxa”

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Porém Bruxa, livro de estreia de Carol Chiovatto, apresenta a bruxa Ísis Rossetti que, em uma das maiores cidades do mundo, São Paulo, tem de monitorar crimes envolvendo forças sobrenaturais.
 

Definido pela própria autora como uma espécie de “Constantine com Jessica Jones”, o livro, publicado pela AVEC Editora, traz uma fantasia urbana com elementos de romance policial.
 

Para conhecer mais sobre a bruxa detetive e sua criadora, conversamos com Carol Chiovatto que além de escritora, é ainda tradutora e faz doutorado cujo tema de pesquisa é gênero e esteriótipos, com foco em… isso mesmo! BRUXAS!

 


Confira:

 

Como surgiu Porém Bruxa? Como você definiria o livro?

 

Eu sempre gostei de narrativas policiais e costumava escrevê-las antes de começar a gostar de fantasia, ainda criança. Depois comecei a ler HQs como Hellblazer e descobri séries de livros de fantasia urbana como The Dresden Files, de Jim Butcher. Antes disso, tinha lido Amores, Exorcismos e uma Dose de Blues, do Eric Novello, e ficado apaixonadíssima. Eu já tinha escrito alguns livros sobre bruxas (ainda inéditos), mas nada nessa linha. Então fiquei me perguntando: mas e se fosse uma bruxa e não um mago a protagonizar uma história assim? Uma investigação policial com elementos sobrenaturais? E se fosse na São Paulo dos nossos dias? Histórias policiais de fantasia urbana tendem a ter uma atmosfera noir, muitas cenas à noite. Isso é difícil de conceber aqui, ainda mais com uma mulher como protagonista. Imagina, ela andando no centro velho de madrugada? Fiquei me perguntando que tipo de coisas ela enfrentaria no cotidiano, para além dos problemas de ordem mágica. E disso nasceu a Ísis. O livro é uma fantasia urbana que flerta com o romance policial. Tipo Constantine com Jessica Jones. Sobre uma bruxa detetive em São Paulo.

 

O quanto sua pesquisa sobre gênero e estereotipagem, cujo foco é em bruxas, influenciou no livro?

 

Influenciou tudo. Influencia absolutamente tudo o que eu escrevo. Na verdade, esse é o foco da minha pesquisa porque é o foco dos meus interesses. Uma coisa alimenta a outra. Eu tendo a me questionar sobre como a gente reproduz estereótipos de coisas que vê em filmes, séries, novelas, que lê em livros. Às vezes, esses estereótipos se sobrepõem à nossa experiência com a realidade. Parece radical dizer assim, mas muitos autores homens têm dificuldades de escrever personagens femininas, e muitos deles têm até mais mulheres do que homens em seu círculo social. Então, de onde vem a dificuldade? É porque a gente pensa em termos midiáticos. Na hora de produzir um livro, um roteiro etc., a gente recorre aos arquivos da nossa cabeça, e neles a maior parte das obras têm poucas mulheres. Eu falo disso na questão de gênero, mas também serve para falar de raça e sexo. É o mesmo processo. Esse assunto me fascina. Então eu estudo no meio acadêmico e reflito através da ficção. Uso a ficção para balancear isso, estudar modos de mostrar a realidade e questionar o que está acontecendo. É engraçado usar o insólito para fazer isso, porque muita gente acha que insólito é sinônimo de escapismo, e não é.

 

Como começou o seu envolvimento com a escrita?

 

Eu escrevo desde que sou alfabetizada. Eu fazia livrinhos com sulfite e grampeava, então escrevia e desenhava nas páginas, igual os livros infantis que lia. Continuar escrevendo foi uma progressão natural disso, sabe? Algo que sempre fiz, que sempre quis fazer. Não consigo sequer pensar na minha vida sem a escrita. Agora, se a sua pergunta se referia mais à parte do mercado editorial, foi em 2010, quando conheci o Fantasticon, um evento que reunia pessoas da literatura fantástica em São Paulo. Desde então conheci muita gente incrível, autores que admiro demais e hoje tenho a honra de chamar de amigos, e até o meu marido haha

 

Como é o seu processo criativo?

 

Costumo escrever à mão, com um caderninho bonito e uma caneta-tinteiro, que é maravilhosa, pois força menos a mão do que canetas esferográficas, por exemplo. Eu geralmente começo tendo uma personagem feminina (a Ísis, nesse caso) e então penso numa masculina, que pode ou não ser um interesse amoroso (no caso desse livro, foi o Corregedor). Eu sempre tenho um contraponto masculino porque gosto de um tipo muito específico de personagem, que é o moço misterioso, e fico tentando estudar nesse esqueleto formas de masculinidade não tóxica. Depois vêm as personagens coadjuvantes e o cenário. Porém Bruxa foi um ponto fora da curva nesse sentido, porque eu planejei cada coisinha que ia acontecer. São três investigações intercruzadas, mais a vida pessoal da protagonista, que entra no caminho o tempo todo. Então eu peguei post-its de quatro cores diferentes, coloquei em tópicos as cenas de cada linha investigativa numa cor, e depois fui intercalando esses post-its na ordem em que deveriam aparecer na história. Isso porque eu tenho uma dificuldade: só escrevo linearmente. Sou incapaz de escrever uma cena do fim antes de todas que se passam antes. Ajuda bastante na hora de editar, pelo menos.

 


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