Criado por Francylene Silva - 9 de agosto de 2019 às 18:20
“Minha terra tem capivaras onde canta o sabiá, as capivaras que aqui são de boas não são de boas como lá”.
Narrado durante as doze horas de uma noite regada a bebida, segredos e romances mal resolvidos, “Enfim, capivaras”, da escritora Luísa Geisler apresenta um grupo de adolescentes em busca de uma capivara, mas talvez eles descubram muito mais que isso.
A trama é ambientada em um cidade no interior de Minas Gerais, o tipo de lugar que nada de muito interessante acontece. Exceto para Binho. Segundo ele mesmo, conhece cantores sertanejos famosos, tem diversas namoradas e uma CAPIVARA de estimação! Cansados das mentiras descabidas de Binho, Vanessa, Léo, Nick e Zé Luís se juntam para desmascará-lo e estão decididos a ir até o fim para isso.
Para conhecer mais sobre o livro e sua criadora, conversamos com a escritora Luísa Geisler. Confira:
Como surgiu a ideia de Enfim, Capivaras?
Surgiu quando eu estava fazendo mestrado na Irlanda. A bolsa e todo o meu envolvimento era com o governo irlandês, então não havia um aspecto em português na tese nem nada assim. Eu achava que a capivara era um animal exótico, porém conhecido – brasileiros, por exemplo, conhecem lobos brancos mesmo que não sejam animais tropicais. Mencionei uma “capybara” numa seção de minha tese, como imagem de algo maior. Minha orientadora era uma senhorinha irlandesa de seus 70 anos, com um sotaque que até hoje não sei se entendo muito bem. Ela me olha e aponta uma parte do texto, dizendo: “Luisa, o que é isso?” Começo a tentar explicar esse hamster gigante que é a capivara. Passei o mestrado inteiro numa fase romântica de “minha terra tem capivaras onde canta o sabiá, as capivaras que aqui são de boas não são de boas como lá”. Eu sabia que queria escrever um livro com uma capivara como parte importante.
Como começou o seu envolvimento com a escrita?
Como leitora. É uma resposta muito simples, mas acho que quem consome muito algo começa a querer fazer e produzir aquilo. Quem gosta de ver futebol se pergunta como jogar ou treinar ou ver mais partidas. Comecei a escrever como forma de participar de um diálogo que já existia, levantar minha mão e dar a opinião.
Após duas obras publicadas pela Companhia das Letras (Luzes de emergência se acenderão automaticamente e De espaços abandonados), pelo selo Alfaguara, agora você estreia no selo Seguinte, sendo a obra do gênero Young Adult. Como surgiu a ideia de escrever o primeiro livro voltado para o público jovem adulto?
É importante lembrar que o selo “young adult” é uma definição de mercado, de público. Mesmo que fosse um gênero literário, eu nao acredito muito em gêneros de uma forma estanque. A história de um roubo/resgate de capivaras requeria jovens. “Adultos” têm boletos pra pagar. A história me parecia demandar protagonistas jovens. Por ter protagonistas jovens, pareceu mais adequado tentar levar para um público mais jovem, que se identificaria mais. Mas em termos de linguagem, processo e estrutura, foi basicamente a mesma coisa. Não pensei num “leitor menor” nem nada assim.
Como é o seu processo de escrita? Quanto tempo levou ao todo para escrever Enfim, Capivaras?
É um processo relativamente duro, com estrutura, escaletas e tabelas pra linguagem. Cada capítulo tem um objetivo, e eu preciso saber como vai ser o final. Conhecendo os personagens e o final, o resto eu resolvo. O Capivaras demorou talvez um ano entre planejamento, escrita e revisão.
Sempre abrimos uma última pergunta que na verdade é uma oportunidade: O que sempre quis responder sobre o livro e ninguém nunca perguntou? Nos diga a pergunta e a responda.
Essa pergunta é sacana, não é? Difícil! Talvez algo sobre a participação de aninais em meus livros. No “Contos de Mentira”, tem um conto em que uma menina cogita colocar fogo num gato e acaba adotando; no “Quiçá”, o melhor amigo da protagonista problemática de 11 anos é um gato; o “Luzes de emergência se atenderão automaticamente” e o “De espaços abandonados” compartilham um gato de mesmo nome-palíndromo (Taco Cat); e a motivação do “Enfim, Capivaras” é uma capivara. Acontece que acho que as dinâmicas entre animais e pessoas podem trazer muitas possibilidades de leitura além daquilo que é explícito. São bons recursos literários, além do fato de eu ter um desejo frustrado de ser veterinária. Ironicamente, apesar do alto número de gatos na lista, tive cachorros toda minha vida até 2016. Hoje sou apaixonada pelos meus três (gatos) meliantes dorminhocos, mas antes era meio indiferente. Não sei bem por que não tem mais cachorros antes disso.
#Livros Enfim Capivaras
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