Criado por Francylene Silva - 4 de maio de 2018 às 18:22
Cangaço Overdrive, quadrinho que mistura cyberpunk e cangaço. Com roteiro de Zé Wellington (Quem Matou João Ninguém?, Steampunk Ladies: Vingança a vapor), desenhos de Walter Geovani (Red Sonja, Sala Imaculada) e Luiz Carlos B. Freitas e cores de Dika Araújo (Quimera) e Tiago Barsa (The few and the cursed), A HQ tem outro diferencial, além da trama incomum, a narração em forma de cordel.
Na história, em um futuro próximo, o Ceará enfrenta sua maior seca em séculos. Numa terra esquecida pelo governo e dominada pelos interesses dos conglomerados empresariais, um lendário cangaceiro e um impiedoso coronel são reanimados para continuar a peleja que deixaram no passado. Enquanto isso, uma comunidade autogerida tenta manter a independência ao defender sua terra de um ataque da polícia orquestrado por uma grande corporação.
O Mais QI Nerds bateu um papo com Zé Wellington para entender mais sobre o processo de criação de Cangaço Overdrive. Confira:
Como surgiu Cangaço Overdrive?
O projeto surgiu de uma provocação do desenhista Walter Geovani sobre uma história de quando o cangaceiro Lampião se escondeu numa gruta numa passagem pela cidade de Limoeiro do Norte. Muito depois de termos conversado, o Geovani falou sobre fazermos uma HQ sobre cangaço lembrando dessa história e eu sugeri colocarmos elementos de ficção científica. Quando menos percebi o cangaço estava convivendo com transumanismo e outros temas malucos na história.
Toda a narrativa é realizada em forma de cordel. Como surgiu essa ideia?
Fazendo uma imersão para trazer temas nordestinos para a história foi inevitável não lembrar da literatura de cordel. Foi aí que pensei que a narração da história poderia ser assim. Deu um trabalho danado, mas ficou bem legal. Estou até fazendo uns cordéizinhos só por diversão agora…
Quais as inspirações e como foi a pesquisa para fazer um cyberpunk nordestino?
Quando a gente entra numa história assim, você começa a pesquisar e vai indo de uma referência para a outra e em determinado momento você nem lembra mais o que estava procurando. No começo só queríamos trazer um cangaceiro para um mundo distópico. Aí percebemos que isso tinha características de cyberpunk e alguns temas do gênero como transumanismo, cibernética e ciberespaço surgiram naturalmente. Pra completar, pesquisando sobre poetas populares nordestinos, me choquei com Chico Science e Patativa do Assaré. Chico já pensava o nordeste de forma cyberpunk quando compôs o álbum “Da lama ao caos”, que é praticamente a trilha sonora da HQ. Já Patativa trouxe a briga de classes para a história.
Quais as previsões que o quadrinho faz para o futuro do nordeste e do Brasil?
O nordeste do futuro de Cangaço Overdrive não é tão diferente assim do presente. O que a gente fez na HQ foi dar um “overdrive”. A seca chegou a níveis absurdos (e até ano passado vivemos uma das piores secas de todos os tempos) e houve retrocesso na retomada do protagonismo da região, transformando a região mais uma vez em local de puro extrativismo das regiões mais ao sul. Nesse contexto uma comunidade pobre e autogerida, baseada nas experiências de Canudos e do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, é pressionada a abandonar um terreno ocupado para que uma grande corporação possa explorá-la. Essas situações são assustadoras, mas são tão reais e contemporâneas que era impossível que não estivessem na HQ.
#Quadrinhos Cangaço Overdrive; Editora Draco; Entrevista; Zé Wellington
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