Pai e Filha: Marcel Ibaldo e Marcelli falam sobre a criação de “Tê Rex”

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Imagina um nerd. Em meio a tantos filmes, quadrinhos e eventos voltados a esse público é muito fácil imaginar a figura e, ainda mais, ser um nerd hoje em dia. Agora pense em como seria um nerd pré-histórico, ou melhor, um dinossauro nerd. Sim, é exatamente disso que a série de quadrinhos TÊ REX fala. Com roteiros de  Marcel Ibaldo (premiado no Silent Manga Audition no Japão, e vencedor do Troféu HQMIX) e arte de sua filha de apenas dez anos Marcelli, as tirinhas acompanham aventuras da Tiranossaura mais nerd que já existiu (até onde se sabe).

 

Teresa, ou simplesmente Tê, nasceu originalmente para uma  série de marca-páginas pela Gibiteria Diagonal, de Porto Alegre e passou a figurar a web semanalmente, sempre com histórias cotidianas envolvendo os prós e contras de ser nerd. Seja esperando incansavelmente o carteiro, enlouquecendo com trailers, recebendo spoilers ou tendo de lidar com as piadinhas de mal gosto sobre seus braços curtos, a dinossauro sempre está rodeada de tudo que é associado aos dilemas nérdicos.

 

Para saber mais sobre o projeto, que em breve estará em uma campanha de financiamento, conversamos com Marcel e Marcelli. Confira!

 

 

– Como surgiu a ideia das tirinhas? E como aconteceu essa parceria?

 

Marcelli: Eu sempre gostei muito de desenhar dinossauros e fui aprendendo mais sobre isso desde os cinco anos, que foi quando eu comecei a desenhar todo dia.

No começo não era muito bom mas eu vou evoluindo nisso com treino.

E por eu ser obcecada por dinossauros, além de ser nerd que nem meu pai, tendo esses interesses em comum a gente decidiu reunir isso em um projeto, ao mesmo tempo falando sobre experiências de vida que temos.

E quanto à parceria, meu pai é autor de quadrinhos há muito tempo, e eu desde pequenininha adquiri esse hobby também de desenhar e contar histórias.

Antes da Tê Rex eu trabalhei em fanzines tanto com roteiro (na HQ Closed Window) quanto desenhando (Estojo Vazio em Quadrinhos, e Palavra Faceira: Poesia em Tiras).

 

Marcel: A gente já vinha desenvolvendo o conceito das tiras desde 2015 pelo simples fato de que a Marcelli é louca por dinossauros e passava desenhando nos cadernos pela casa. Levou um tempo até que a gente conhecesse a Teresa, essa personagem que nos fez abandonar todos os outros esboços de personagens criados até então. Isso porque no momento em que pensamos na personalidade dela a personagem pareceu tão viva e autêntica a ponto de nos empolgar de modo que  criamos em poucas semanas as primeiras vinte tiras da série.

Além disso, a Marcelli já tinha publicado em fanzines sem o compromisso de periodicidade de publicação, mas tava disposta a se arriscar mais com quadrinhos. A Tê Rex foi a forma perfeita de a gente iniciar a parceria que é mais um motivo pra a gente passar tempo junto conversando sobre nerdismo.

 

– Quais as inspirações do roteiro delas?

 

Marcelli: As ideias das histórias são inspiradas por coisas que algum de nós já viveu. Alguma piada ou situação que a gente conversa e diz “isso serviria pra uma boa tira”.

Mesmo coisas que nem bullying e vício por quadrinhos vêm disso (mesmo que eu ache que não sou tão viciada que nem a Tê). E mesmo a gente não sendo igual em atitudes ao que os personagens fazem, nossas memórias e coisas que a gente vê nos inspiram nos roteiros.

 

Marcel: Tanto coisas dos anos 90 e começo dos anos 2000 ligadas a colecionismo, quanto fatos recentes do meio nerd, além do que a Marcelli vivencia sendo uma leitora assídua de livros e HQs, fissurada em cinema e séries. Tudo isso faz parte do cotidiano da Tê e nos ajuda a deixar mais abrangente o conteúdo dos roteiros tornando possível que pessoas de gerações distintas venham nos passar um feedback do quanto se identificam com os perrengues que a protagonista vive, mesmo ela sendo uma tiranossaura de eras atrás.

 

– Como é o processo de criação?

 

Marcel: Costumamos conversar bastante sempre com algum caderno por perto porque sempre nas nossas conversas surgem ideias pra tiras. A partir dessa lista eu programo os próximos arcos de tiras e desenvolvo os diálogos e aparições de personagens novos pra que a Marcelli desenvolva o character design de cada um. Assim que tenho o texto pronto passo pra que ela analise (e muitas vezes explico alguma situação à qual ela não esteja habituada porque ela conhece um contexto geek bem diferente do que várias vezes retrato nas tiras).

Caso aprovado o roteiro ela parte pra etapa de desenho da tira.

 

Marcelli: Às vezes recebo o roteiro só em texto e em outras  já recebo um storyboard e desenho a partir disso.

Faço o meu esboço da tira e começo a detalhar a lápis pra depois finalizar com nanquim na mesa de luz, e por fim passo pra colorização com aquarela que é a minha tarefa final antes de passar pro meu pai editar o texto e balões no computador.

 

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– Sempre abrimos uma última pergunta que na verdade é uma oportunidade:

 

O que sempre quiseram responder sobre a HQ e ninguém nunca perguntou?

 

Marcelli: Algo interessante é sobre o processo de criação dos personagens da série. Eles agem como humanos mas por serem dinossauros nós usamos as diferentes espécies pra representar melhor a personalidade de cada um. Por exemplo, a Teresa, por ser tiranossauro, tem os braços curtos e isso torna ela vítima de bullying na escola, que é um tema que aparece bastante na série.

Então pra criar cada um deles eu utilizo as características mais marcantes pra distinguir uns dos outros. Uso referências de livros, filmes e revistas pra manter as características principais, e por eu gostar muito de dinossauros a pesquisa que eu faço não se torna algo chato.

Muito pelo contrário. É muito divertido.

 

Marcel: Pessoalmente foi interessante perceber que ao mesmo tempo em que a Marcelli foi uma grande inspiração pra mim enquanto eu criava a série e que utilizo esses aspectos cotidianos da vida da minha filha pra desenvolver um paralelo nas tiras, houve um processo inverso quando a Marcelli comentou que, após algumas tiras publicadas, se inspirava na Teresa pra buscar formas de lidar com problemas que ela enfrentava no dia a dia, especialmente em relação a bullying e preconceito em geral por ela ser uma menina que curte- histórias de super-heróis, rock’n roll, etc. Coisas que pra mim não são tabu uma menina curtir, mas à volta dela ainda se percebe que existe uma visão hermética sobre quais formas de entretenimento alguém deve apreciar. Nesse primeiro ano de publicação percebi o quanto as similaridades entre elas se estreitavam, e ao mesmo tempo em que a gente amadureceu a forma de contar essas tiras, vi um amadurecimento da própria Marcelli a partir da personagem que ela mesma criou.

 

 

Tê Rex

 


#Quadrinhos   ; ;


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