Vampiros e literatura: Entrevista com escritor de “Crônicas de Markus”, Marcio Zanini

Após alcançar sucesso com publicação independente e um início no mundo da literatura de forma um tanto incomum, o escritor Marcio Zanini encontrou uma casa editorial. “Crônicas de Markus“, um dos lançamentos da Editora Xeque-Matte deste ano, traz de volta os vampiros em sua forma clássica: cruéis, realistas e lastimosos.

O Mais QI Nerds bateu um papo com o escritor e não deixou de fora as perguntas sobre seus trabalhos anteriores, incluindo os de desenhista. Zanini pretende relançar suas obras anteriores, assim como realizou com As Crônicas de Markus? Será uma série, duologia? Qual o próximo livro? Descubra nesta entrevista exclusiva:

Você primeiramente começou a trabalhar como desenhista. Como ocorreu essa transição de desenhista para escritor?

Foi algo tão natural que nem me dei conta. Eu mesmo escrevia minhas próprias histórias para depois desenhar. Quando percebi, tinha mais ideias do que tempo para desenhá-las. Acabei focando em escrevê-las e todos que liam gostavam muito. Foi neste feedback que vi que, escrever e ler realmente me alegravam mais.

Você tem a ideia de ilustrar algum de seus livros?

Essa ideia me passa pela cabeça. O tempo todo. Mas atualmente, desenho apenas por hobbie, não é mais algo que gasto meu dia ou semana focado nisso. Meu cérebro está mais ocupado criando histórias do que imaginando desenhos. Mas essa possibilidade não está descartada, embora não há previsão para isso, por que na maioria dos casos, as editoras sempre tem outros planos visuais para os livros e isso acaba simplesmente não encaixando. Mas, quem sabe um dia.

Seu primeiro trabalho no mundo literário, a obra ” Uncontrollable” foi voltada para o público americano, sendo publicada em inglês, no ano de 2014. Pretende traduzir e publicar no Brasil?

Nenhuma intenção. Foi o primeiro livro que lancei para o público e, de lá para cá, minha escrita mudou e aprendi muita coisa que tornaram meus livros diferentes e melhores. O livro em inglês teve o momento dele e passou. Reescreve-lo para minha escrita atual é algo que não me passa pela cabeça. Tenho outras histórias mais bacanas para contar. Eu considero minha carreira literária a partir do Crônicas de Markus e o que virá depois. Antes disso, vejo como tentativas e aprendizado para a maneira como escrevo e entendo o mercado editorial hoje em dia. Por isso, sempre digo as pessoas que tenho contato, não julgue minha escrita pelo que foi lançado antes do Crônicas de Markus. Sei que é estranho dizer isso as pessoas, mas quem leu algo meu antes e ler o Crônicas agora pela Editora Xeque Matte vai perceber a enorme diferença.

Tanto Vítimas de Obscuridade quanto Crônicas de Markus, foram publicadas de forma independente. Para você, quais são os prós e contras desse tipo de publicação? 

Eu pessoalmente não tive uma boa experiência na época, de forma independente, em especial, porque não tinha o conhecimento, contatos e dinheiro necessário para investir o quanto deveria. Hoje, seria diferente. Pessoalmente gosto do suporte e visibilidade que uma editora me proporciona. Fazer uma publicação independente futuramente não está descartada, mas não é algo para o futuro próximo. Para mim, o melhor de lançar por uma editora é poder focar mais na escrita do que me dividir em “10” para fazer todas as etapas. Fora que, há profissionais para essas etapas que são capacitados e estudaram para isso, coisa que eu não sou, como criar uma capa por exemplo. Dizem que de forma independente você lucra mais. Mas eu estou muito feliz com as vendas pela editora. Não tenho o que reclamar.

Falando sobre Vítimas da Obscuridade. Há alguma pretensão de lançar uma nova edição do livro?

 Há sim. Na verdade eu já reescrevi ele para minha escrita atual. No momento ele está sendo analisado por duas editoras. Espero ter novidades em breve (rs).

Este ano, Crônicas de Markus ganha uma nova edição pela Editora Xeque-Matte. Houve alguma mudança no texto em comparação à publicação independente?

Muitas (rs). O livro foi reescrito. Coisas foram acrescentadas e alteradas. Cenas, diálogos etc. O final do livro também é diferente. Fora que, agora ele está realmente bem editado e acabado. Com uma boa capa, revisão e diagramação.

Saiba Mais Sobre o Livro!

Como surgiu a ideia da trama e quanto tempo durou o processo de escrita?

Tenho a ideia da trama desde adolescente. Sempre fui fascinado por vampiros e queria escrever sobre. Quando comecei de fato a trabalhar no livro, levei em torno de um ano para finalizá-lo, isso contando os dois livros, a história completa, por que teve muita pesquisa histórica do que acontecia no mundo naquela época e que iria influenciar o desenvolvimento do Markus. Embora eles sejam lançados separados, já havia escrito tudo.

Crônicas será uma duologia, anteriormente seria uma série, por que a mudança?

Eu sou um autor que está se tornando conhecido ainda. Há um longo caminho para que as pessoas me vejam e acreditem na minha capacidade de contar uma história. O que o futuro me reserva ainda é uma incógnita para mim e para a editora. Queria arriscar menos, começar de pouco em pouco. Iniciar com uma duologia já é um risco, uma série seria um risco ainda maior. Perguntas como: E se não vender? E se não gostarem? E se não emplacar? Vampiros sofrem sim, discriminação literária. Foram perguntas e pensamentos responsáveis por essa decisão. Claro que pode acontecer o contrário, e se for o caso, das pessoas lerem, gostarem da maneira como escrevo sobre vampiros e quiserem mais, há como continuar a história. Senão, fica um arco de história fechado somente. Para você começar uma história que não há previsão para um fim e conseguir chamar atenção do leitor para isso, só se você já for famoso. Eu pelo menos, acredito nisso.

O segundo livro já está terminado?

Já. Eu sempre crio toda a história antes de escrever. Começo meio e fim. Gosto de trabalhar assim, ter um norte para não me perder no caminho. Não gosto de começar uma história sem saber no que vai dar só por que tive uma ideia. Pode ser que não dê em nada e será tempo perdido. Escrever um livro que será lido e analisado por todas as pessoas é uma responsabilidade. A pessoa vai gastar dinheiro e tempo com seu trabalho, que você consiga recompensá-la da melhor maneira que puder.

Tem em mente qual será o próximo livro após o término da duologia?

Tenho e já estou trabalhando a um tempo na história. Levo meses para bolar tudo, fora que, leio muitos livros do mesmo estilo antes de começar a escrever. Não dá para lançar 3 livros por ano. Tudo tem seu tempo para lançar, ser vendido e depois lançar outro. Tudo precisa de uma programação a longo prazo. Nesse meio tempo, gasto com ideias, bolando histórias diferentes que se destaquem. Que realmente valham a pena gastar tempo, investimento e energia para finalizar um livro. Se eu não conseguir imaginar coisas bacanas, situações impactantes, reviravoltas inesperadas, algo que tire o meu livro do famoso circuito: mais do mesmo. Eu nem começo a escrever.

Claro que já existem livros de vampiro por ai. Aos montes. Mas não iria lançar o Crônicas, por exemplo, se não tivesse criado minha própria linguagem, meu próprio diferencial. Ninguém gosta de comer macarrão cru, é o molho que faz a diferença.