Criado por Francylene Silva - 5 de setembro de 2016 às 11:01
Ao início do livro, cética em relação ao tema, não acreditava em todos os adjetivos que a crítica especializada atribuía à “A Menina Que Tinha Dons”, de M.R. Carey: “Exuberante! Surpreendente! Reflexivo!” Esse último então me parecia ainda mais descabido se tratando de uma distopia retratando uma realidade onde mais da metade da população havia sido dizimada ou transformada em zumbis, ou “famintos”, se utilizarmos o nome escolhido pelo autor para definir os seres mortos-vivos devoradores de carne.
Mas são exatamente estes três adjetivos que mais se encaixam para qualificar o livro. E acrescidos a ele: “original!”. Isso mesmo, original por utilizar de cenários, situações e personagens tão recorrentes de uma forma nova ao nos apresentar zumbis com cérebros , que pensam, analisam e tem sentimentos. Eles são exceções em meio a maioria que apenas seguem instintos, mas é exatamente estes que tornam a obra tão interessante.
O que nos faz humanos? Nosso poder de raciocinar? De nos comunicarmos? De viver em sociedade? Todas essas características, Melanie, protagonista da história, carrega, mas apesar de não aparentar nada que a diferencie de uma criança ordinária, ela ainda assim é um deles. Seu ardor por carne humana ainda está presente, mas ela não o abraça, ao contrário, e quando tudo parece sair do controle, é ela quem pode ajudar, eles gostando ou não.
A maior parte da história é focada em mais quatro personagens, fora Melanie, a professora Helen Justineau , que acredita na humanidade da garota e de outros dos seus estudantes, iguais a menina. A doutora Caldwell , que os vê apenas como uma possível resposta para o mal que atormentou o mundo e não tem absoluta empatia por eles. O sargento Parks. que apenas deseja deixar tudo da melhor maneira possível, e o soldado … que atormentado por seu passado, consegue ainda ser ingênuo.
Personagens conflitantes e cativantes. Aquela que acaba por se tornara antagonista, a doutora, na realidade simplesmente acredita ser a última esperança da humanidade e não medirá esforços para conseguir seu objetivo, nem que precise abrir crânios das crianças famintas sem piedade. A inflexibilidade e foco da doutora a torna insensível, mas devido as circunstâncias apresenta ainda um lado lógico e racional. Não podemos julgá-la sem lembrar do contexto.
As lembranças de um passado que parece tão remoto é outro ponto interessante a ser mencionado. A desvalorização de coisas materiais, a perda de significado por conta das transformações ocorridas, são descritas de forma que nos faz começar a questionar o por que de hábitos comuns nossos.
O final é simplesmente brilhante, que estarrece o leitor e o deixa refletindo por horas. Vale a pena cada palavra lida.
#Livro A menina que tinha dons; livro A Menina Que Tinha Dons; M R Carey
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