Criado por Francylene Silva - 29 de julho de 2016 às 13:56
2016 é certamente o ano de Germana Viana, quadrinista empoderada que apenas este ano agraciou os leitores com diversos novos projetos. Sempre optando pela diversidade, a quadrinhista traz a nona arte personagens femininos fortes e independentes. Como no lançamento do selo Pagu, da plataforma de quadrinhos, Social Comics, com a HQ “As Empoderadas” e ainda com Lizzie Bordello e as Piratas do Espaço, quadrinho que começou online mas que logo tomou as páginas impressas, ganhando um segundo volume este ano.
E foi exatamente sobre o quadrinho sci-fi mais original e divertido do mercado que Germana Viana conversou com o Mais QI Nerds. Para entender mais sobre a história as piratas do espaço e as referências da quadrinhistas. E é claro, falar sobre a visão sobre personagens femininos nos quadrinhos, assunto que ela domina.
– Para quem acompanhou as aventuras do primeiro volume, o que podem esperar da continuação? E quem ainda não teve contato com o “Lizzie Bordello e as Piratas do Espaço”, como definiria a história?
Como na primeira edição, este segundo volume é composto por histórias que também estão disponíveis na internet, de graça, e por histórias inéditas, exclusivas para o encadernado (e futuramente para o Social Comics) essas histórias extra são um mimo para as pessoas que gastaram dinheirinhos comigo. Agora, o que esperar das novas histórias? Continuam alucinadas, bagaceiras, com a parte científica da ficção científica bem duvidosa. E com muito mais Capeta, porque a irmã da Deus participa das novas histórias e bom… ela é cão.
Agora, pra você que tá chegando agora, elas são quatro mulheres: a Lizzie (que é a capitã e cozinheira), a Fran (que é moça das comunicações, tipo a Uhura, sabe?), a Deus (claro que não sei se ela é Deus de verdade, isso não se pergunta para as pessoas…) e Lambretinha (a novata, que não é mais tão novata no encadernado 2, ela tá começando a ficar uma menina bem fodona!). Elas são piratas. E elas causam no espaço-tempo. Você pode conhecer algumas histórias aqui: www.lizziebordello.com .
– Como surgiu a ideia da HQ e quando a primeira página foi ao ar?
Olha, a ideia de fazer uma HQ com minas piratas no espaço é antiga, acho que desde 2006 eu tinha vontade de fazer algo assim e meio já que um esqueleto de tudo, esboços… Lizzie Bordello, por exemplo, era o nome que criei para uma personagem pirata para um jogo de RPG que nunca foi pra frente, e é a junção de Liz Bennet (de Pride and Prejudice, da Jane Austen) e de Gogol Bordello (porque adoro a banda) e que terminei achando completamente adequado pro nome da minha personagem de HQ. Mas sabe como é, mesmo trabalhando no mercado de quadrinhos há algum tempo, (sempre nos bastdores, como letrista, diagramadora, e auxiliando no agenciamento de artistas pro mercado gringo), insegurança e desculpas como “depois eu faço” me fizeram enrolar. Mas o FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos que rola em BH) de 2013 fez a sua mágica, e ali, não teve mais como conter, a vontade ficou forte demais! Ainda bem! Nunca fiquei tão feliz fazendo algo como fazendo meus próprios quadrinhos. Ah, você perguntou quando a primeira história foi ao ar, foi no dia 13 de junho de 2014. (tive que procurar meu primeiro posto, eu não lembrava)
– Quais foram suas referências na hora de criar?
Minhas referências são muitas: vai desde os quadrinhos até música, literatura, cinema, vida real, vizinhos, amigas. Cada um tem seu próprio método, mas acho que eu seria incapaz de desenvolver quadrinhos se minhas referências fossem apenas quadrinhos. Ou qualquer expressão que dependesse dela mesma – gosto de misturar tudo! Se você quiser que eu seja mais específica dentro dessa mistureba que faço, bom, nos quadrinhos acho que tem muito das pessoas e quadrinhos que admiro, como Love and Rockets, Sandman, quadrinhos de herói… na música, muito punk e post-punk; no cinema, desde filmes B até o artsy bem cabeção, e por aí vai!
– Diversos quadrinhos online acabam, após terem maior repercussão, ganhando as páginas impressas. O que aconteceu com Lizzie Bordello. O que você acha dessa utilização da internet para divulgação e ainda abertura de mercado para quadrinhistas? Quais dicas daria para quem quer achar seu lugar ao sol em meio a tantos quadrinhos online?
Foi exatamente o que aconteceu, quando eu tinha uma certa quantidade de páginas publicadas na internet – que é uma ótima opção para fazer seus quadrinhos chegarem ao público, já que não precisa de estruturas mais tradicionais como a impressão, a distribuição e o estoque, – eu apresentei meu material para algumas editoras e terminei sendo convidada por uma que não tinha apresentado, porque estava com vergonha por serem amigos (vai vendo a bobeira), mas deu super certo e taí \o/ – Sobre a divulgação e abertura que a internet trouxe para quem produz quadrinhos, acho maravilhoso. Como disse acima, é uma opção espetacular e pode muito bem andar de mãos dadas com o formato mais tradicional, impresso. E ainda, sobre achar seu lugar entre tantos outros quadrinhos, a primeira coisa que vou dizer é: não se preocupe! Tem espaço pra todo mundo, essa maneira de pensar, de ter medo de não ter destaque já que tem muita gente, é retrógrada, antiga e não é real! Tem espaço e público pra todo mundo! Competição é coisa bem burra, especialmente porque colaboração funciona muito melhor! Não tem por que se sentir ameaçado pelo trabalho de outra pessoa, apenas faça um trabalho legal, faça barulho em cima dele, divulgue, se divirta e ajude quem está, como você querendo chegar no leitor.
– Muito se discute atualmente sobre diversidade e empoderamento feminino. Suas personagens fogem de estereótipos e predefinições. Você acha que a visão sobre os personagens femininos nos quadrinhos está mudando?
Sim! Ainda tem muito chão a se percorrer, mas já existe uma boa mudança e o sinal de que está se fortalecendo é que editoras grandes, comerciais, começaram a prestar atenção e a introduzir em seus quadrinhos uma diversidade mais próxima da vida real. Agora, já temos títulos nos quais as personagens são protagonistas formidáveis! Temos também coadjuvantes que são tridimensionais, que não estão ali só pra ser cenário! E isso vem acontecendo tanto com personagens mulheres quanto com personagens LGBT e com personagens não caucasianos! E isso é lindo! Porque a diversidade tá aí, em todo lugar, está mais do que na hora que a cultura pop reflita isso nos quadrinhos, filmes, livros e séries que produzimos e consumimos!
– Alguma previsão para o Oceano de Brumas voltar a ser publicado?
Ah, esse ainda não tem. Uma pena… Mas é por bons motivos: tanto eu quanto o Kosmiskas (que é o roteirista da história) nos envolvemos com projetos que estão absorvendo demais nosso tempo, e acabamos decidindo parar para não fazer mal feito. Mas um segredo: estamos tentando convencer o Kosmiskas a transformar a história, que é maravilhosa, em livro… Torçam aê pra ele se animar a levar essa ideia pra frente!
😀
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