Entrevista com Douglas MCT e Fabiano Ferreira, de”SUPER”

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O roteirista Douglas MCT e o quadrinista Fabiano Ferreira se uniram para criar “SUPER”, webmangá que estreia dia 20 de julhono site Lamen.  Na trama, O garoto Edrik Everton sempre sonhou em se tornar um super-herói. Depois de passar por uma grande reviravolta na vida, ele consegue ingressar na Excelsior, uma escola onde ele estudará e treinará para virar um SUPER, fazendo muitos amigos e inimigos pelo caminho. O mangá terá novas páginas disponibilizadas todas as segundas-feiras.

 

Em entrevista exclusiva ao MAIS QI NERDS, os artistas deram detalhes sobre a criação do mangá e ainda opinaram sobre o momento atual do mercado de quadrinhos. Douglas MCT explicou que a parceria com Fabiano surgiu após um outro artista ter saído do projeto, que teve início em 2013. Com isso, ele deu uma pausa e continuou com outras iniciativas, como a webcomic “Dez Desejos”. Com a retomada do projeto em meados de 2014, Douglas procurou um novo artista que tivesse o perfil e desse identidade única para o mangá. “Encontrei todos esses elementos no Fabiano Ferreira, que já era meu colega de rede social e a quem eu acompanhava gradualmente os trabalhos postados. Fiz o convite, ele se apaixonou pela história, pelos personagens, e o resto é história. Em breve, todos vocês verão o que essa união foi capaz de criar”, esclareceu.

Confira a entrevista :

 

MAIS QI NERDS – Como surgiu a ideia do mangá?

 

DM – Foi em meados de 2013. Insights me ocorrem o tempo todo, e SUPER surgiu numa dessas tempestades criativas. Eu pensei em vários elementos que foram formando o mosaico, que depois se tornou SUPER, e esses elementos eram: “Imagina Harry Potter ou Naruto, onde tem a molecada estudando pra ser bruxo ou ninja, mas em vez disso, eles estudam para se tornarem super-heróis. E começam como sidekicks (ou seja, como Robin´s)”. A partir disso, fui montando outras peças e construindo o mundo e os personagens, tanto baseado nos mitos de super-heróis americanos, quanto na estrutura shounen de mangás, mesclando a tantas outras referências do meu repertório, como mercado nacional, europeu etc. E depois que convidei o Fabiano Ferreira para ingressar como artista no projeto, novas ideias foram acrescentadas para enriquecer a série. Já temos história pra contar por duas sagas, pelo menos. Esperamos chegar até lá!

 

Qual o processo de criação de “SUPER”?

 

DM – A ideia, como eu disse, surge do nada, no dia a dia, no corre-corre até o trabalho, embaixo do chuveiro, enquanto eu almoço etc. Depois disso, eu procuro sustentar melhor essa ideia e torná-la um plot. Então, debato essa premissa inicial com alguns amigos do meio e vou lapidando a trama. Se ela continuar se sustentando e eu me apaixonar por ela, então começo a fazer mais brainstorms com amigos e a rascunhar outros pontos do mundo onde a história vai passar, sobre personagens, tecnologia, princípios etc. Aos poucos, o que era uma ideia, vai tomando forma, até virar uma história.

 

Quando decido fazer da trama uma história em quadrinhos, então deixo todas as anotações que fiz ao meu alcance (geralmente usando o rápido e pratico Google Docs) e começo a escrever o roteiro (ou a rascunhá-lo a mão, dependendo do caso), que depois será repassado pro artista.

 

Quando e como começaram a trabalhar com quadrinhos?

 

DM Comecei de berço. Minha mãe diz que tem desenhos meus num caderno de receitas dela dos anos 80, quando eu tinha uns 3 anos. Desde criança, sempre fiz meus gibis (geralmente inspirados em Turma da Mônica e Disney), que eu chegava a fazer num formato de gibi mesmo e grampear. Aos 13 iniciei um curso de desenho e aos 24 fui professor de desenho, sonhando em seguir a carreira como desenhista. Mesmo assim, meu forte sempre foi contar histórias, criar diálogos e personagens e pensar numa narrativa. Minha primeira grande oportunidade foi como roteirista dos gibis da Turma da Mônica, onde trabalhei de 2005 até 2007 e ali descobri o que amava fazer. Desde então, lancei algumas tirinhas na web, editei alguns quadrinhos, roteirizei outros tantos e estou com Hansel&Gretel (meu primeiro grande mangá) no forno, que será lançado pela Editora NewPOP entre esse ano e o próximo.

 

FF Bom, eu sempre tive essa veia criativa para quadrinhos, no começo só o que eu fazia era isso mesmo, começar, começar e começar outra vez, nunca terminava nada. Permaneci assim até uns dois anos trás, quando então meu primeiro quadrinho finalizado (e na última hora como sempre), foi uma adaptação da lenda da Gralha Azul, que foi premiado num concurso municipal de Ponta Grossa.

 

O que me motivou a desenvolver uma produção melhor foi o meu interesse em participar de concursos de quadrinhos internacionais, como o da editora Morning e depois o da Editora Norma, que inclusive fui finalista ano passado com o projeto Behemoth: The Paradox Breaker. E agora, com o convite muito bem-vindo do Douglas MCT para participar de um projeto de webcomic chamado SUPER. O que está cada vez mais interessante e empolgante, ambos nos empenhando e desenvolvendo o quadrinho de coração.

 

O que acha que um bom roteiro de HQ deve ter?

 

DM – Não existe uma fórmula. Mas um bom roteiro precisa ter personalidade. E paixão, e identidade, e rumo. Uma noção do autor de onde ele quer chegar com aquilo, e se ele acredita naquela história que está contando. Precisa de diálogos críveis e de personagens profundos e funcionais. Ainda que sigam um clichê ou um estereótipo (e nada de errado com isso, acreditem), ele precisa ter unidade, e um certo nível de criatividade, que o diferencie de outros materiais do gênero. Um bom roteiro precisa também ser bem escrito, precisa ser corajoso pras decisões de reviravolta no plot, e comercial para decisões que envolvam elementos de fácil identificação com o público. O autor precisa amar o que escreve e saber pra qual público está escrevendo aquela história, pra linguagem seguir o mesmo ritmo. Um bom roteiro precisa de revisão e ser feito sem pressa, na medida e, acima de tudo, que não seja um genérico de Dragon Ball, Naruto ou Homem-Aranha, por favor.

 

Quais características acha fundamental na criação de um personagem?

 

FF – O chamado brainstorm. Eu e o Douglas MCT vivemos pirando no desenvolvimento da trama de SUPER. Eu fico imaginando os aspectos psicológicos dos personagens e como isso vai nortear suas ações, se tal decisão para determinado personagem é válido devido ao seu perfil, seu caráter e assim por diante, e a gente vai debatendo junto as coisas que ele escreveu e desenvolveu, pra ficarmos alinhados no resultado final.

 

Quais são suas referências no mundo dos quadrinhos?

 

DM – Muitos. Idolatro Mike Mignola. Sou fã de Mauricio de Sousa, Jeff Smith, Marcelo Cassaro, Joe Madureira, Neil Gaiman, Alan Moore, da dupla Albert Uderzo e René Goscinny. Mas, me focando no âmbito de mangás: sou doente por Hiromu Arakawa, Yoshihiro Togashi, Nobuhiro Watsuki, Akira Toriyama e recentemente passei a admirar caras e minas como Makoto Yukimura, Shinobu Ohtaka, Nakaba Suzuki, Eiichiro Oda, Masashi Kishimoto, Kouta Hirano, Shiori Teshirogi e Masasumi Kakizaki.

 

FF – Ah, não são muitas, cada parte do meu desenvolvimento eu tive artistas que eu me inspirava para desenhar e criar. No momento, eu tenho uma forte influência de Hamada Yoshikazu. Eu admiro tanto seu incrível trabalho, como sua dedicação constante. Tenho um carinho muito grande e influência também pelos trabalhos de artistas franceses, como Xavier Houssin, Fabien Mense, Joel Jurion, Bill Otomo. Tem ainda o Anthony Holden, a Ana Cattish que gosto bastante também.

 

Há planos para o mangá ser publicado de forma impressa?

 

DM – Sim. Na verdade, já existem algumas editoras interessadas em publicar, mas como ainda estamos produzindo os primeiros capítulos, pretendemos ter um número maior de material antes de falar em publicação. Eu criei o LAMEN neste ano, e resolvi alocar SUPER nessa iniciativa, onde teremos páginas semanais, de uma série que ainda não tem previsão de fim, onde o leitor poderá acompanhar sempre que quiser. Mas com os eventos de quadrinhos no final de ano, surgiu a possibilidade de fazermos uma impressão independente de SUPER, com os primeiros capítulos, que será vendido também como “amostra”, pra um novo público conhecer o material.

 

O que acham do formato de webcomics?

 

DM – É mais uma possibilidade e oportunidade para os quadrinhos. E, no caso da maioria dos títulos e autores nacionais, é também o meio mais fácil, por não depender da aprovação de uma editora para publicação e de todo o meio editorial, que envolve uma penca de burocracias. Além do alcance maior pela visibilidade na internet ser infinita, também existem dezenas de maneiras de fazer um quadrinho ser interessante por meio digital – digo isso, no formato de leitura mesmo, com possibilidades diversas. Alguns, até, utilizam-se de efeitos sonoros ou de animação para provar até onde uma webcomic pode chegar.

 

No LAMEN, teremos webmangás, como estou chamando, de maneira mais “tradicional”. São páginas comuns, que terão uma leitura rápida, fluída e gostosa para o leitor, esteja ele no computador, no tablete ou no smartphone. O importante, é que a leitura de webcomic seja tão atrativa quanto é no impresso. Da parte “ruim”, é que com sem editores e editora, filtrando o mercado, muita coisa ruim vai pra web também. Contudo, isso não chega a atrapalhar, afinal é dado o público o poder da escolha e dessa filtragem.

 

FF – Bom, geralmente esse é o caminho das pedras dos quadrinistas. Tipo, lançam um webcomic, conseguem um público, fazem um projeto de financiamento coletivo e divulgam seu trabalho impresso em eventos de quadrinhos… Daí já não sei muito, mas é o que eu acho. Fora o lado prático da coisa, ou seja, praticamente todo mundo acessa a internet, tem um celular, tablet, PC ou algum outro dispositivo, desse jeito, um consumidor de quadrinhos pode ter um acesso mais rápido, cômodo e barato ao alcance de suas mãos, assim como os criadores, que não vão ter que arcar com os altos custos de impressão e distribuição.

 

Quais outros trabalhos você tem em desenvolvimento ou publicado?

 

FF – Tenho o Azure Jay, uma adaptação da lenda da Gralha Azul, como eu já disse antes; tem outra adaptação que foi premiada e vai sair numa coletânea dos selecionados do edital de quadrinhos de Ponta Grossa; tem também o Behemoth: The Paradox Breaker, que foi finalista do concurso da Editora Norma; tem um mangá que fiz para o concurso da editora JBC desse ano, e por fim estou desenvolvendo mais um quadrinho para a pesquisa do meu TCC.

 

Como vocês vêem o momento atual do mercado nacional de quadrinhos?

 

FF – Pois olha, eu sei muito pouco, mas ao que se vê por ai, é que tá surgindo possibilidades e artistas nacionais finalmente começaram a despontar e a serem valorizados pela indústria de quadrinhos nacional. Falando nisso, tenho que pesquisar isso, separar um tempo do desenho e da procrastinação…

 

DM – Vejo um bebê crescendo forte e robusto, com muito potencial pela frente. O Brasil teve um mercado de quadrinhos incrível nos anos 80, com tiragens que chegavam a milhões e uma produção ativa e profissional, mas que passou por uma queda entre os anos 90 e o novo século, sempre no esforço pra se reerguer. Nos últimos quatro anos, iniciativas como as Graphic MSP tem descoberto e dado novas chances para artistas com potencial. Outras tantas editoras, mais de livros do que as de quadrinhos, aliás, veja só, também abriram espaço para a produção nacional.

 

O Catarse tem sido o principal meio para autores independentes ou que não tiveram chances ou não tiveram paciência com as editoras e resolveram se autopublicar – o que felizmente, tem despontando em sua maioria ótimos títulos. Com isso, as editoras abrem os olhos e os publicam, alimentando e criando o mercado de quadrinhos nacional, num ritmo interessante de se acompanhar. Ainda falta muito, é claro, mas já é um bom começo.

O LAMEN surgiu da necessidade de publicar bons mangás nacionais, começando pela web, que oferece grande alcance e recursos pra quem pode chegar longe. O LAMEN é também uma vitrine, para que outras editoras enxerguem nos títulos que publicaremos, potenciais obras vendáveis. Existe uma fase futura do nosso projeto, também, que envolverá uma publicação impressa. Mas aí será outra história. Até lá, fique de olho no LAMEN e boa refeição!


#Quadrinhos   ; ; ; ; ; ; ;


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