Rita Foelker e Laudo Ferreira apresentam o quadrinho “Aymará”

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A escritora Rita Foelker e o quadrinista Laudo Ferreira lançam o quadrinho Aymará. Publicada pelo Selo Café Espacial, a HQ  foi selecionada pelo Proac Lab Expresso e tem o apoio da Secretaria de Cultura de São Paulo. 
 

Na história, Ariel, uma jornalista de opiniões fortes,  tem o inusitado encontro com Aymará, um espírito misterioso que irá lhe proporcionar uma série de experiências em realidades distintas através de uma jornada repleta de entendimento e amor.
 

Para conhecer mais sobre o quadrinho, batemos um papo com os autores. Entre outros temas, falamos sobre o início da parceria dos dois e o processo criativo do quadrinho. 
 


 

– Como surgiu a parceria entre vocês? 
 

Rita Foelker: Laudo e eu nos encontramos nos rituais de ayahuasca do CEU Flor do Japy, em Jundiaí/SP. Nas conversas, a gente ia descobrindo uma afinidade de ideias que era muito bacana.
 

Então certa vez ele me disse que queria fazer um quadrinho com um tema da espiritualidade. Perguntou se eu escreveria. Originalmente, não era sobre Aymará, mas a gente foi conversando, o projeto se construindo até que, quando me senti pronta pra escrever, Aymará surgiu muito forte pra mim. E quando peguei o note e passei a digitar, a narrativa fluiu bem fácil. Ajudou muito o fato de que eu tinha os textos psicografados e consegui perceber a forma e o momento de introduzir suas mensagens em situações vivenciadas pela Ariel, personagem central da HQ.
 

Quando mandei pro Laudo, ele curtiu e então começou a verdadeira trabalheira de produzir o que antes estava só na ideia!!!
 

 – Aymará é um espírito psicografado por Rita durante muito tempo e agora virou o protagonista do quadrinho. Como surgiu a vontade de trazer Aymará para a nona arte? 
 

Rita Foelker: Não foi originalmente intencional e nem foi algo forçado. O contato com os Espíritos não é algo que você provoca ou força. Você deixa acontecer, percebe se é positivo, percebe pra onde está caminhando e decide se quer manter ou não. Sempre com a noção de que suas escolhas têm consequências.
 

Por exemplo, os textos do Calunga (outra psicografia) viraram livros, tiveram enorme vendagem e chegaram aonde eu nunca imaginei. Ainda hoje, trinta anos depois do lançamento do primeiro volume, as pessoas me encontram e dizem “Nossa, aquilo que está no livro ‘tal’ do Calunga, foi pra mim e mudou a minha vida!” Relatos maravilhosos. Fico feliz.
 

No caso do Aymará, a pegada foi diferente. Ele era claro, exato, simples e trazia sabedoria vivida. Ele me contatou no contexto dos rituais e depois ele me intuía. Desde frases até textos longos de grande profundidade. Quando ele começou a trazer os textos eu não sabia ainda, mas com o tempo foi ficando claro que era um conhecimento valioso.
 

O convite pra escrever a HQ colou como um imã nas mensagens do Aymará – a partir de um certo ponto era evidente que tinham tudo a ver.
 

Sei lá!… Talvez o Calunga também queira uma HQ uma hora dessas kkkkk
 


 

– Rita, sendo espírita, como foi trabalhar um roteiro envolvendo xamanismo?
 

Rita Foelker: Eu não separo a minha espiritualidade em departamentos. Eu sou espírita, estudo a Filosofia Espírita, que se tornou um pano de fundo para o meu entendimento da vida.
 

Fui ao primeiro ritual com uma pessoa muito, muito especial mesmo, que me convidou e que hoje já está do Outro Lado. Sou muito grata por isso.
 

Não tinha ideia do que iria acontecer. Fui de coração aberto e minha base espírita foi comigo. E não encontrei nada lá que se chocasse com a compreensão espírita da vida. Tem gente que acha que espiritismo é forma. E que se não seguir a forma habitual, está errado! Espiritismo é profundidade de entendimento, para agir com bom senso e elevação moral em qualquer situação.
 

 

– Laudo, outra obra sua “Cadernos de Viagem” já trabalhou com a expansão da consciência através de trabalhos xamânicos. Em que essa nova história se assemelha e se diferencia deste trabalho?
 

Laudo Ferreira: Ambas tratam de pessoas reais baseadas em nossas próprias experiências pessoais com o xamanismo e a expansão da consciência. Ambas tratam de um momento de descobertas que mudaram o íntimo de cada personagem, o Miguel em “Cadernos de Viagem” e a Ariel em “Aymará”. Em “Cadernos…” há uma busca pela cura através do entendimento do amor entre pai e filho; em “Aymará”, a protagonista vivencia uma nova forma de observar sua vida e de quem a cerca através de uma compreensão de que cada um está dentro do seu momento, de sua história. Não há “a” verdade e sim a questão de cada um. No resumo ambas tratam de cura e de amor. 
 

O que há de diferente é que por ser o ilustrador em “Aymará”, diferente de “Cadernos…”que fui autor do roteiro também, o olhar torna-se outro, o envolvimento é diferente, fui quase como um expectador da história da Rita enquanto ia desenhando, mas ao mesmo tempo me envolvendo muito, pois quem estava dando a cara da história e os sentimentos dos personagens era eu.
 

(Confira o texto Jornadas e conhecimentos em “Cadernos de Viagem”, de Laudo Ferreira) 


 


– Como foi o processo criativo do quadrinho? Quanto tempo durou ao todo a produção de Aymará?
 

Laudo Ferreira: A intenção de trabalhar com uma HQ que tratasse desses assuntos tão fundamentais a todos nós mais as questões sobre o xamanismo vieram por volta de 2012, 2013, eu acho, pois a memória não é tão boa assim. Existia uma vontade de fazer uma HQ mais humana, pois mesmo tendo esse viés  da expansão da consciência, a base de tudo é a melhora como pessoa, a cura de coisas que na maioria das vezes estão escondidas dentro da gente e que muitas vezes causam danos que carregamos pela vida toda. 
 

Não tinha nesse período nenhum ponto de referência para criar o enredo. Pensei na Rita, amiga que frequentava o local em Jundiaí/SP onde fazíamos os trabalhos com Ayahuasca e sabia de seu trabalho como pesquisadora, escritora, palestrante e fiz o convite. Além de confiar plenamente no resultado de seu trabalho, iria gerar uma parceria com alguém não ligada às produções de quadrinhos, mesmo ela sendo desenhista também. 
 

Com o roteiro em mão depois de algum tempo, comecei a trabalhar no concept dos personagens, e foi, acredito, nesse período que veio a ideia do que seria depois “Cadernos de viagem”. Como estava muito forte a intenção dessa HQ, pela profunda experiência pessoal que havia tido em trabalhos com o chá, tomei a dianteira e acabei deixando Aymará em segundo plano. 
 

“Cadernos de viagem” foi publicado, o tempo passou, acabei trabalhando em outro projetos engatilhados como “Olimpo tropical”, e “Aymará” foi ficando na gaveta. Um dia acordei muito cedo e a primeira coisa que me veio à cabeça, antes mesmo de ter a noção de “estar desperto”, foi o nome – Aymará – na hora pensei: ele deve estar me cutucando para voltar a trabalhar em sua história. E foi o que fiz. Parti do zero, pois já havia começado a desenhá-la anos antes e foi magnífico, pois culminou num período em que estava buscando um novo traço, uma nova forma para meu desenho e veio primeiro em “Aymará”.
 

Quem for ler essa nossa HQ, irá ver alguns easter eggs do “Cadernos de viagem”, caso conheça, pois como contei acima há de certa forma um elo entre esses dois trabalhos, fora aquilo que lá no início de tudo fez eu e a Rita nos conhecermos, que foi o xamanismo.

– Uma última pergunta. Como vocês definiriam o quadrinho?
 

Rita Foelker: Eu defino como realista, baseada em fatos. A parte da Ariel mistura memórias e ficção. A parte de Aymará é pura simplicidade e sabedoria.
 

Laudo Ferreira: A HQ fala de amor, ele é a cura. É disso que tantas histórias, por mais que não pareçam, tratam. Acredito na transformação que a arte pode promover, para muitos ou para um apenas que seja. A gente aqui que se habilita a fazer, de novo, para milhões ou para um que seja, está sempre tentando isso. Promover essa transformação em quem lê (no nosso caso, livros, quadrinhos…) e claro, em quem cria.
 


#Quadrinhos   ; ;


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