Resenha HQ O Vazio que nos Completa, de Sergio Chaves e Allan Ledo

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O que é real?

O medo é real? O amor é real? Nossos vínculos emocionais são reais? A fé que nos impulsiona?

A uma pessoa que seja esquizofrênica não apenas questões subjetivas são passíveis de questionamento, o transtorno mental faz com que a pessoa perca a capacidade de distinguir entre a realidade e a imaginação.  


A própria definição de realidade é levada em voga. Seria realidade algo definido socialmente? Algo que se encaixa em regras pré-estabelecidas? Seria aquilo que é palpável, visível?


Ao ser diagnosticado com esquizofrenia, a vida de Douglas muda completamente. Leticia aparece e tudo volta a fazer sentido. Até que Guilherme, seu melhor amigo, diz que a moça não passa de fruto de sua imaginação.  A dúvida surge com ainda mais intensidade: O QUE É REAL?


Apresentado de forma surpreendente e misteriosa, a HQ O Vazio que nos completa, de Sergio  Chaves e Allan Ledo transporta o leitor em meio a um oceano de possibilidades: um barco de clareza pode passar e tentar o resgatar; você pode nadar incessantemente em questionamentos; e pode ainda morrer afogado em dúvidas. O certo é que em nenhum momento seu pé atingirá o chão, não haverá zona de conforto e você só pensará no oceano que o rodeia.


O roteiro de Sergio Chaves, associado aos espaços vazios, traços minimalistas e sombreamento de plano de Allan Ledo, é instigante e envolvente. Ao passo que a história de Douglas é desbravada, com suas múltiplas versões e simbolismos, ela aproxima a cada página o leitor ao ponto de os questionamentos trazidos ao longo da narrativa não sejam exclusivos aos personagens.  Como em diversos momentos a visão da historia se vale apenas da perspectiva do personagem central, até mesmo o leitor, sendo apresentado a duas versões da trama, parecidas contudo diferentes, questionará a realidade dos fatos.

A densidade que impregna as páginas agregada ao realismo e naturalidade que o personagem principal é retratado, diferente das esteriotipações e uso de clichês habituais na representação artística de transtornos mentais, acentua essa dualidade na percepção da realidade. As alucinações de Douglas são críveis, tal qual a realidade. A distinção entre os planos ( real e imaginário) funciona como a peça chave da obra. E e ela que guia o leitor até o surpreendente e impactante final.

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SERGIO CHAVES Nasceu em Vera Cruz, interior de São Paulo. É editor e roteirista de quadrinhos. Começou a editar fanzines no final dos anos 1990 e hoje, formado em Design Gráfico, trabalha com produção editorial. É um dos responsáveis pelo selo Café Espacial, com o qual conquistou prêmios nacionais e destaque internacional. Já teve histórias publicadas em antologias como Venham +5 (Portugal) e Feitiço da Vila: a poesia de Noel Rosa em quadrinhos (Jupati Books). O vazio que nos completa é sua primeira narrativa longa.


ALLAN LEDO Nasceu em Curitiba, Paraná. É desenhista e arte-educador formado em Artes Visuais pela Faculdade de Artes do Paraná (FAP). Foi professor de HQs na Gibiteca de Curitiba e ilustrador de publicidade. Seus trabalhos foram publicados na Manticore, Fantasias Urbanas, Café Espacial, La Bouche du Monde (França) e outras publicações. Com o roteirista Eder S. Rodrigues, publicou em fanzines a série Sangrando até morrer (1999-2007) e o álbum Entressafra (Editora Marca de Fantasia).


#Quadrinhos  


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