Laudo Ferreira e Marcel Bartholo contam detalhes da HQ O Santo Sangue

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A HQ O Santo Sangue, com arte de Marcel Bartholo e roteiro de Laudo Ferreira, conta a história da jovem Lucem, que se tornou uma santa para seu povo graças à inusitada capacidade curativa de seus fluidos menstruais.

 

Seria isso uma maldição ou uma dádiva divina? O pai da garota não se importa e deseja apenas a morte do homem que acredita ter sido o responsável por essa situação. Um velho e infalível matador profissional é contratado, mas para alcançar seu objetivo precisará confrontar a si mesmo num duelo íntimoque poderá transformá-lo.

 

“É uma história bruta, com personagens brutos numa realidade mágica onde há os que buscam cura e há os que buscam apenas viver os seus credos. Não há mensagens, intenções finais de minha parte. Essa coisa que é importante, lógico, mas sempre deixo para o leitor.”, contou Laudo em entrevista exclusiva ao Mais QI Nerds.

 

Falando sobre inspiração e processo criativo, Laudo Ferreira e Marcel Bartholo contaram mais detalhes do que podemos esperar de  O Santo Sangue. Confira:

 

 

COMO SURGIU O SANTO SANGUE? COMO VOCÊS DEFINIRIAM O QUADRINHO?

 

Laudo: O roteiro foi escrito há mais ou menos uns quatro, cinco anos. Inicialmente veio a intenção de reutilizar um personagem que havia feito em uma hq curta para a revista “Café Espacial” numa história maior que compusesse um álbum, pois julgava que esse personagem poderia render mais, como rendeu. Num segundo momento eu mesmo iria desenhar essa história e cheguei a produzir
quase dez páginas dela e então o processo estagnou por diversos motivos, entre eles a finalização da trilogia Yeshuah e a produção de outras hq’s como “Cadernos de viagem”, aí foi ficando de lado mesmo, até que resolvi passar para o Marcel de forma desenhar magistral.

 

“O santo sangue” basicamente é como a cegueira de ficar preso à princípios às vezes nos torna inaptosde seguir adiante e entender os signos da vida, os momentos de mudanças que devem acontecer e com isso quem sofre sempre somos nós. Isso é representando na figura do protagonista, o matador Vernio, que apesar de toda carrega pesada que traz da vida, não percebe que é preciso mudar. A história fala de cura também, de cura da alma, da dor, do perdoar. Há uma frase que percorre toda a história dita na boca de alguns personagens, “no mundo tudo se cura”, por mais que possa parecer que não.

 

QUAIS FORAM AS INSPIRAÇÕES PARA A HQ?

 

Laudo: Para mim, já há alguns anos a inspiração vem de literatura e cinema. Filmes como “Deus e o diabo na terra do sol”, “O santo guerreiro contra o dragão da maldade” do Glauber Rocha e obras de outro cineasta, Pier Paolo Pasolini (este já havia sido influência para compor o visual da trilogia Yeshuah) são referências muito fortes pela força bruta que trazem por si.

 

Marcel: Laudo já tem todo um universo temático com elementos místicos que gosta de trabalhar em suas histórias. Eu mergulhei um bocado neste universo também.

 

Quando conversamos eu estava produzindo a HQ “Carniça”, e minha referência prioritária era Cândido Portinari. Trouxe isso para o “Santo Sangue”. Acho que ainda mais forte, por ser uma arte inteiramente resolvida na pintura (digital). Busquei muita coisa no universo de Zé Ramalho e também do Zé do Caixão.

 

 

COMO FOI O PROCESSO CRIATIVO E QUANTO TEMPO DUROU AO TODO A PRODUÇÃO?

 

Laudo: Confesso que não me recordo quanto tempo demorei para escrever o roteiro, mas não foi nada sofrido. Há o tempo em que vou formatando a ideia na cabeça, faço uma sinopse e aí parto para o texto em si. Quando sentei com o Marcel para definir umas coisas do visual dos personagens, foi tudo muito rápido pois ele pegou todo o contexto de primeira e no decorrer do trabalho da quadrinização, um ou outro momento troquei umas ideias com ele, que na verdade era mais apresentar o conceito da cena do que necessariamente ditar a imagem da coisa. Prefiro que o artista sinta o gosto do momento e traduza isso do seu jeito.

 

Marcel: O processo criativo foi MUITO legal! Com a decupagem do roteiro, eu determinei um mapa cromático para a história, já definindo as cores básicas de cada parte da história. Isso me ajudou MUITO na hora de trabalhar. Com esse mapa também busquei trabalhar as páginas num modo meio caótico e fora de ordem. Hora eu fazia páginas do começo, outra do fim. Ia finalizando quadrinhos em ordens diferentes, às vezes eu trabalhava o mesmo personagem em diferentes páginas. Ou seja, uma confusão, mas que gostei! E acho q deu certo…

 

Ainda em 2017, eu fiz apenas as 4 páginas iniciais de o Santo Sangue. E daí me dediquei para terminar o Carniça e peguei alguns trabalhos que pagavam as contas (risos). Então “O Santo Sangue” foi feito mesmo entre janeiro e abril de 2018.

 

Acho que essa HQ me ajudou demais a definir um ritmo e um estilo confortável para adequar meu desenho para as narrativas. A pergunta que sempre me fazem é “É feito a mão? ou é computador?” (risos) E eu sempre digo que é feito a mão… no computador.

 

Gosto e uso muito o material Giz pastel Oleoso, ainda penso em usar numa HQ, mas venho justamente buscando na pintura digital um acabamento que chegue próximo do material “real”.
Então eu trabalho a pintura digital num modo bem “orgânico”, sempre sobrepondo as massas de com e editando pincéis que se aproximem das texturas que eu gosto do giz.

 

ESSA É A PRIMEIRA HQ CONJUNTA DE VOCÊS. COMO SURGIU A PARCERIA?

 

Laudo: Exatamente. Conheço o Marcel já uns bons anos e vi como seu trabalho nos quadrinhos foi evoluindo de uma maneira incrível, com uma qualidade estupenda e já com sua marca única. Quando voltei a olhar para o texto de “O santo sangue” e pensar que estava no momento dessa história criar vida, porém não pensei mais em desenha-la e sim em passar para um outro artista e o primeiríssimo nome que me veio à cabeça foi do Marcel. Há uma coisa dessa “força bruta” que comentei acima em sua arte, umas pinceladas de Portinari e uma descompromisso com influências a não ser a de seguir o seu olhar, que me encantaram e me faz ter a absoluta certeza que foi a parceria certa para gerar “O santo sangue”. Aliás, ele definiu de uma vez por todas o espírito e a cara do matador Vernio, e se no futuro ele voltar em alguma outra história, a cara do personagem já está definida.

 

Marcel: Bom, sou amigo do Laudo já há alguns anos, mesmo antes de eu pensar em fazer quadrinhos. De certa forma, ele foi um dos motivadores para eu mudar meu foco e produzir HQs. Se não me engano, durante a Ugrafest do ano passado, dei de presente para ele uma ilustração que fiz baseada no álbum dele, ‘Caderno de Viagens’, e ele deu uma olhada na minha pasta e, logo em seguida pintou o convite. “Marcel vamos fazer um projeto juntos, aguarda um pouco….

 

O Santo Sangue é uma HQ que o Laudo escreveu e já havia até mesmo desenhado algumas páginas, mas deixou parada por conta de outros projetos. Vérnio, o personagem principal, já havia aparecido em outros trabalhos dele. Mas Laudo me deixou muuuuuito livre para adequar todo o visual para meu estilo.

 

Lemos o roteiro todo num café em SP e ali ja definimos que poderíamos aumentar a quantidade de páginas. Eu queria muito fazer páginas duplas e tal, e Laudo me estimulou a seguir nesse caminho. Eu propus diversas sequências visuais adicionais para o roteiro original, mas foi fundamental essa leitura em conjunto e essa decupagem inicial. Como estou morando em Sorocaba, depois nossas conversas eram por whatsapp (risos).

 


#Quadrinhos   ; ; ;


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