Entrevista com Raphael Miguel, autor de “O Livro do Destino”

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O que faria se recebesse um artefato capaz de alterar o destino das pessoas ao seu redor? A busca pela resposta a essa pergunta permeia os leitores de “O Livro do Destino”, primeiro romance solo do autor Raphael Miguel. E nada mais justo do que esta ser a primeira pergunta feita ao escritor em entrevista exclusiva que ele deu ao Mais QI Nerds.

 

Sem poupar detalhes sobre seus futuros projetos, o paulista, em uma conversa franca, contou ainda suas preferências quanto a seus próprios trabalhos. E estes são muitos e variados. Os leitores podem esperar de épicos medievais a tramas contemporâneas, passando por histórias pós-apocalíptica. Mas isso é apenas o começo para um autor que em cerca de um ano participou de mais de 15 antologias.

 

Confira a entrevista:

 

O que você faria se pudesse mudar o destino das pessoas?

 

Essa é a grande provocação que O Livro do Destino faz àqueles que leem suas linhas. Engraçado quando o autor do livro é indagado com a mesma questão. Meio que inverte o ponto de vista. (RS)

 

Bem, vamos lá. Acho que não posso fugir desta pergunta, não é? A questão é complicada, pois vejo que a interferência no destino de alguém pode gerar inúmeras consequências, desde as mais positivas até desgraças incontroláveis. É bem a relação de causa e efeito, sabe? Na ficção, a alteração de algo que deve acontecer pode gerar até mesmo o apocalipse.

 

Com certeza, não gostaria de estar na pele de Eric Dias. O personagem principal, de um dia para outro, se vê com uma responsabilidade enorme sobre os ombros e me pergunto o que aconteceria se o livro fosse parar nas mãos de alguém mal intencionado. Enfim. Identifico-me bastante com o Eric e entendo suas escolhas.

 

Assim, talvez, podendo interferir no futuro, no destino, tentaria fazer algo realmente bom. Possivelmente, ficaria frustrado (assim como Eric), mas insistiria em tentar mudar a humanidade de alguma forma. Seria um trabalho de formiguinha e demorado. Sei que poderia obter o efeito reverso do pretendido, mas tentaria fazer algo significante para deixar um bom legado.

 

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Como surgiu a ideia de “O Livro do Destino” e quanto tempo durou para concluí-lo?

 

Parece um pouco estranho dizer isso, mas tenho a espinha dorsal de O Livro do Destino guardada desde a adolescência. Alguns argumentos e personagens já existiam durante minhas brincadeiras infantis. Eric Dias era um personagem de minhas brincadeiras com bonecos. Era interpretado por um bonequinho do Dick Graysson (Robin) e tinha um companheiro que era um anjo chamado Angeluz, interpretado por um bonequinho do Arcanjo (X-Men). Esse Angeluz era o protótipo do que veio a se tornar Nathaniel. (RS) Ou seja, estava em meu destino escrever O Livro do Destino.

 

A ideia de colocar no papel surgiu de uma discussão comigo mesmo acerca da existência ou não do destino e das implicâncias em com ele brincar. Bastou desenvolver essa questão através de um rapaz jovem para ver O Livro ganhar vida. Da primeira letra que digitei até a última, levei cerca de 3 meses. Foi rapidinho exatamente porque já tinha quase tudo em mente há tempos. O resultado final foi uma surpresa, das mais agradáveis.

 

Obviamente que após o último ponto final, parti para o trabalho de revisão. Pode contar mais um mês nisso. Mesmo assim, foi um projeto bem rápido. Já para lançar, aí é outra história.

 

Quais foram suas inspirações para a criação da história? Alguns dos seus personagens foram baseados em pessoas que conhece?

 

Sabe o que eu acho? Que as histórias que desenvolvo sempre estiveram presentes em minha mente conturbada. Sério. É como se estivessem lá, escondidas de alguma forma, apenas esperando o momento propício para serem contadas. A inspiração surge do nada, sem qualquer tipo de esforço. É como se, quando uma história existe, implorasse para ser contada. Simples assim. Coisa de amalucado. Não costumo forçar o processo criativo.

 

Com os personagens ocorre a mesmíssima coisa. Como se existissem em alguma dimensão.Alguns leitores podem até traçar paralelos entre os personagens e gente real, mas isso não se deu de forma premeditada. Não me baseio em pessoas ou fatos reais para criá-los.

 

O Livro do Destino é seu primeiro livro solo publicado, mas não o primeiro escrito, este é “A Saga de Esplendor: A Angústia do Conselheiro”. Há alguma previsão de lançamento para ele?

 

O primeiro volume de A Saga de Esplendor, versão beta, está disponível na plataforma WOMOU e pode ser lido gratuitamente. Corram para lá. (RS)

 

Engraçado olhar para o passado e pensar que A Saga de Esplendor era minha grande ambição no mundo literário. Um projeto ousado e muito ambicioso. Gostaria de fazê-lo vingar, mas sei que devo ir com calma. Tentar lançar uma saga logo no início da carreira pode ser um grande tiro no pé. Sei que tenho muito a trabalhar nesse projeto e não quero entregar nada cru aos leitores. Seria injusto.

 

Por isso que ainda não lancei A Saga de Esplendor e seu primeiro volume. Recebi propostas interessantíssimas de lançá-lo por boas editoras, ainda na mesma época que negociei O Livro do Destino, mas não achava que estava pronto para que o projeto se concretizasse.

 

De lá para cá, fiz várias alterações na trama, cortei o livro quase que pela metade, inseri alguns conceitos, retirei outros. Enfim. Hoje, vejo A Angústia do Conselheiro mais redondinho, mais enxuto e mais maduro. Porém, ainda há alterações pontuais a serem feitas. Tanto é que estou na 4ª revisão.

 

É possível lançar A Angústia do Conselheiro? Sim. Contudo, devo dizer que tenho outros planos na frente. Se tudo der certo, lançarei Ácido & Doce primeiro. Atualmente, estou estudando lançá-lo no amazon em formato digital tão logo termine a revisão e proceda o competente registro autoral.

 

Os leitores não precisam aguardar tanto para lê-lo, mas ainda vai demorar um tempinho para vê-lo em formato físico. No fim, acho que a espera vai valer a pena.

 

Você já participou de mais de 15 antologias e coletâneas. Ter tido essas experiências anteriores alterou em algo ao escrever o livro? Por exemplo, facilitou na busca por seu estilo de escrita?

 

Nossa! Às vezes me assusto com esses números. Em menos de um ano que comecei a publicar, já tenho 19 participações em antologias dentre contos e poemas. No que isso interferiu em minha carreira? Creio que, como a pergunta feita sugere, ganhei experiência. Tenho uma melhor ideia do funciona e do que não funciona no mundo fictício e percebi que posso, se me esforçar, contar as mais variadas histórias.

 

Posso migrar do romance ao terror com algumas palavras, do épico ao trágico com uma simples modificação do ponto de vista. Essa é a grande lição que tiro das participações em antologias. Posso escrever sobre o que bem entender, basta me esforçar para isso. Se isso interferiu na produção de meus livros solo? Com certeza.

 

Veja só: A Saga de Esplendor é um épico de fantasia medieval clássico; O Livro do Destino envolve mistério, conspirações e espiritualidade em uma fantasia contemporânea; Ácido e Doce é uma espécie de trama contemporânea de encontros e desencontros com ação, traços picantes e jornada de vingança; Já Planeta Brutal é uma história pós-apocalíptica com toques violentos.

 

Vê? Diferentes tipos de enredo. As antologias me deram a coragem necessária para não me permitir a pertencer a um só estilo literário. Permitiu sair da minha zona de conforto.

 

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Seu perfil no livro revela que possui diversos projetos literários em andamento. Poderia contar sobre alguns deles? Teremos novidades ainda esse ano sobre “Ácido & Doce”, “A Saga de Esplendor” ou “Planeta Brutal”?

 

Vários projetos e pouco tempo para executá-los. (RS) Vamos pelos principais.

 

Como apontado pela própria pergunta, tenho uma história já terminada chamada Ácido & Doce. Devo dizer que adoro essa trama, pois mescla diversos elementos para prender a atenção do leitor. Uma jornada de vingança, com pitadas mais quentes, muito debate psicológico, personagens cativantes, encontros e desencontros. Pretendo lançá-lo tão logo possível. Dependo do ajuste de alguns detalhes e de revisões pontuais na trama. Só não sei se conseguirei lançar esse ano, mas novidades teremos com absoluta certeza.

 

Paralelo à divulgação de O Livro do Destino e à revisão de Acido & Doce, comecei a escrever Planeta Brutal, um enredo pós-apocalíptico que abordará os lados mais sombrios da corrompida humanidade. Estou muito feliz e empolgado com o desenvolvimento desse livro e penso que poderei colher seus frutos em um futuro próximo.

 

Além disso, continuarei com minha coluna sobre cultura pop na Revista Varal do Brasil e tenho um plano meio que ambicioso de torná-la um canal no youtube. Já fiz alguns testes, mas a ideia ainda está no campo das conspirações.

 

Para um futuro próximo, ainda este ano, participarei de mais algumas antologias, estas como autor convidado, um status que ainda não havia experimentado. Pretendo, também, organizar eventos literários com outros escritores. Por fim, estou trabalhando nos arredondamentos de A Saga de Esplendor e acho que sobre isso ainda teremos boas novas em 2016.

 

UFA! Espero ter saúde, garra e perseverança para realizar todos meus planos.
Hoje em dia, cada vez mais, vemos lançamentos de livros de autores nacionais. Você acredita que a literatura nacional está progredindo no sentido de conseguir mais espaço e interesse dos leitores brasileiros?

 

Particularmente, vejo um movimento MUITO forte e interessante em andamento. Espero não estar enganado quanto a isso. Cada vez mais, há autores brasileiros buscando um lugar ao sol e a perspectiva é animadora. Apesar de o mercado literário ser bastante predatório, temos que buscar meios de nos tornar ainda relevantes no cenário atual. Não é um processo fácil e envolve muita luta, mas é algo a se objetivar.

 

O espaço que estamos obtendo no mundo virtual, através de uma batalha incessante e em conjunto com blogs, sites e vlogs, passando pelas redes sociais, deve migrar para as livrarias de forma a se tornar ainda mais robusto. Não é algo que vejo acontecer tão logo, infelizmente. Porém, com certo otimismo, sei que esta hora ainda vai chegar.

 

Disputamos com a concorrência estrangeira que considero desleal, disputamos com grandes marcas, mas isso não pode e não deve nos desestimular.

 

A nova geração da literatura brasileira está conquistando seu espaço com muita criatividade, respeitando o leitor e se aproximando pessoalmente do público. Consequência direta disso é um maior interesse dos leitores brasileiros por livros brasileiros.  Não deve ser menosprezado o movimento que vem surgindo e crescendo.

 

Sobre suas preferências: Qual é o seu livro e seu personagem favorito?

 

Difícil escolher um dentre uma vasta gama de tramas e realidades. (RS) Tenho um carinho especial por A Saga de Esplendor por ter sido minha primeira escrita. Sou apaixonado por Ácido & Doce exatamente pela dicotomia do título, que se alastra pela trama e para os personagens. E amo de paixão O Livro do Destino por ser minha primeira publicação e por estar me dando uma visibilidade que apenas existia nos meus sonhos. Ou seja, amo tudo que escrevo.

 

Costumo dizer que o escritor deve ser seu maior fã. Se não amarmos nossas histórias, por que alguém de fora deveria amá-las? Por isso que luto por elas, luto para que sejam reconhecidas. Mas, não vou deixá-la com uma resposta tão vaga como esta. Não seria justo.

 

Vou eleger A Saga de Esplendor, ok?

 

Quanto aos personagens, igualmente difícil escolher um dentre tantos. É injusto com os demais.

 

Top 4:

 

Príncipe Handre Helt (A Saga de Esplendor) – Handre é o típico príncipe de armadura e virtuoso e é isso que mais admiro nele. Em época de personagens cinzentos e sombrios, o herdeiro do trono do Reino de Agat é a figura do mocinho clássico. Além disso, obstinado, Handre pertence a uma organização que defende o Reino sob as costas de dragões, a Ordem dos Dragões. Corajoso, o Príncipe está sempre disposto a lutar em favor de Agat e para proteger a quem ama.

 

Eric Dias (O Livro do Destino) – Eric começa a trama como um rapaz sem muitas ambições na vida e segue seu caminho de forma bastante despretensiosa até que recebe uma herança que o obriga a tomar várias atitudes. Dias não é corajoso no início e luta várias vezes com as possibilidades que lhe são oferecidas, mas suas atitudes são de uma pessoa genuinamente bondosa. No final de O Livro do Destino, Eric acaba tomando uma atitude inesperada e até mesmo drástica que muda radicalmente suas perspectivas. É essa coragem adormecida de Eric que me faz admirá-lo.

 

Judah (conto O Sobrevivente, inserido em Planeta Brutal) – Judah (que não tem seu nome revelado durante o conto) é um ser moldado pelas condições em que vive, onde há escassez de água e transborda violência. Um anti-herói que faz coisas inimagináveis para sobreviver. O que mais gosto nesse personagem é sua vontade de viver e a ausência de culpa que sente nessas ocasiões.

 

Eveline (Ácido & Doce) – a protagonista dessa história é uma girl power que tem uma determinação em mente: vingança. Eve sabe aonde quer chegar. Sua garra e perseverança são admiráveis, assim como sua determinação. Aquele tipo de garota que não tem medo de se impor e faz de tudo para alcançar seus objetivos. Você não iria querer ficar em seu caminho.

 

Mais uma vez, não serei sacana ao ponto de responder a pergunta de forma objetiva. Se for escolher algum desses personagens, escolherei Eveline.

 

Se pudesse ser o autor de um livro já publicado, qual título escolheria?

 

Quer me colocar contra a parede. (RS) Sem mais delongas e sem justificar (até porque a escolha dispensa qualquer justificativa), gostaria de ser Camões e ter publicado OS LUSÍADAS. Pretensioso?


#Livros   ; ; ; ;


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