“Nuvens de Verão” mostra as dificuldades do amor platônico

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“Era uma noite de segunda-feira, quando o Douglas MCT me perguntou, com aquele ar de Nick Fury, se eu não gostaria de entrar na Iniciativa Lamen”, foi dessa forma que Israel Oliveira, desenhista do webmangá “Nuvens de Verão” contou sobre como foi realizado o convite para integrar o time de artistas do portal de webmangás nacionais Lamen. “Infelizmente não será com algo novo ou uma série, no momento, por estar ocupado com outros projetos (suspense). Confesso que fiquei bem contente nesse dia, já que o Douglas é um cara cujo trabalho eu vinha acompanhando há anos (desde o primeiro anúncio de Hansel & Gretel), e ser reconhecido como um artista de nível profissional por alguém como ele foi uma realização pessoal pra mim”, completou ele.

 

Nuvens de Verão, que começa a ser publicado no portal a partir de 25 de julho, sendo algumas páginas publicadas a cada sábado até a conclusão dos capítulos, tem o formato one-shot e conta a história de Caio, um garoto tímido que alimenta uma paixão platônica por Jacqueline, estudante nova na sua turma. Para se declarar, o rapaz conta com a ajuda de Lu, sua melhor amiga.

 

A história tem roteiro de Charles Lindberg. Os dois, em entrevista excluisiva ao MAIS QI NERDS contaram detalhes sobre a criação do mangá e ainda opiniaram sobre o momento atual dos quadrinhos no Brasil.

 

Confira a entrevista:

 

 

Como surgiu a ideia do mangá?

 

IO – Nuvens de Verão era uma ideia que eu já tinha em mente em mente há algum tempo. Gosto desse tipo de história onde colocamos uma lupa sobre os pequenos dramas cotidianos que vivemos. A intenção era que os leitores mais novos se familiarizassem com o protagonista, e causasse um sentimento de nostalgia nos leitores mais velhos. Mas era um roteiro que eu não conseguia externar sozinho, então acabei pedindo um help pro meu amiguinho Charles (risos).

 

Como é seu processo de criação?

 

IO – Especificamente para Nuvens, foi mera observação cotidiana. Queria que o mangá tivesse um sabor de realidade. Esse é um terreno por onde poucos quadrinistas se aventuram aqui em nossas terras. E no contexto do concurso do BMA de 2014, achei que seria um diferencial com relação às obras que a maioria produzia.

 

E quanto ao roteiro?

 

CL – Bem, na realidade eu ainda estou aprendendo sobre isso. O processo que tenho utilizado com o Israel é semelhante ao de uma adaptação de mídia comum. Eu essencialmente escrevo um conto, com diálogos diretos, descrições de personagens e ambientes e tudo o mais, e Israel então traduz isso para HQ, conversando sobre detalhes ao longo do tempo. Minha parte é escrever, trabalhando com palavras e sentimentos, então entendo pouca coisa da questão técnica de como funciona uma HQ. O estilo narrativo, os quadros… Tudo isso eu deixo pro Israel. Começamos alguns projetos juntos, mas o único realmente concluído foi Nuvens, e até que gostamos bastante do resultado. Acredito, porém, que isso pode melhorar significativamente, conforme eu for me adaptando ao trabalho de roteirista. O Israel já é um excelente artista gráfico e a sensibilidade artística dele também ajuda na hora de traduzir o roteiro e os personagens.

 

Quais suas referências no mundo dos quadrinhos?

 

CL – Como falei acima, sou menos ligado aos quadrinhos do que gostaria; minhas influências são mais literárias. Porém, posso citar aqui alguns artistas cujo trabalho me impressiona e cujas proezas criativas me inspiram: o lendário  britânico Alan Moore e o estadunidense Frank Miller são os principais do meio mainstream. Do Japão, porém, com cujo meio estou mais familiarizado, posso dizer que sou diretamente influenciado e inspirado por Nobuhiro Watsuki, Eiichiro Oda, os sombrios Kentaro Miura e Junji Ito, e as fantásticas Hiromu Arakawa e Yuki Urushibara. Obras de todos esses autores representam coisas, momentos e estilos que eu muito gostaria de imitar. Alguns deles foram responsáveis por diversas mudanças de rumo e ideias na minha vida, mas a última, em especial, mudou minha forma de ver o mundo e exerce constante influência sobre meus trabalhos.

 

IO – Akira Toriyama e Nobuhiro Watsuki ainda são os que me inspiram mais, mas existem dezenas de artistas nos quais eu me inspiro, como Masami Obari (designer de animes como Fatal Fury), Shingo Araki (designer do anime de Saint Seiya), e artistas do mercado americano, como Jim Lee… Dos artistas brasileiros, os que eu mais curto são a Eudetenis, a Simone Beatriz, o Altair Messias, o Wal Souza (que ilustram Brigada Ligeira Estelar, me sinto honrado de dividir espaço com essa galera), além da Aline Diniz (autora de Rhiven & Rhyper’s).

 

Como e quando começou a trabalhar com quadrinhos?

 

CL – Ah, não faz muito tempo. Foi quando fizemos Nuvens de Verão. Eu estava na minha e Israel veio do nada me convidando pra escrever um roteiro. Ele deu a ideia de que tipo de história queria e eu escrevi.

 

IO – Meu primeiro trabalho profissional foi um quadrinho educativo para uma ONG da minha cidade, que trabalhava a questão LGBT, chamado Laila. É basicamente o recorte de um dia na vida de uma travesti daqui de Juazeiro do Norte, no Ceará. Depois desse teve um trabalho com mais repercussão, que foi “Joaseiro”, mangá que contava a história de como Juazeiro do Norte emancipou-se e se tornou um município independente (este trabalho celebrava o centenário da cidade, inclusive).

 

Quais as qualidades que um bom roteiro deve ter?

 

CL – Um roteiro precisa ter continuidade, uma premissa boa, algo que prenda a atenção do leitor desde o primeiro momento, e não o deixe perder o interesse ao longo da jornada. O final precisa compensar o trabalho de ter lido tudo aquilo, então se o seu final não for muito bom, espero que você tenha escrito algo cujos muitos momentos durante a leitura valeram a pena, como Gantz. Uma coisa que eu pessoalmente detesto são momentos que não somam em nada à história ou ao desenvolvimento dos personagens; aventuras insignificantes, lutas demasiadamente longas,  momentos que servem apenas para ser “visualmente legais”. Acho que precisa ser visualmente legal ao mesmo  empo que é interessante e relevante ao roteiro. Em FullMetal Alchemist, por exemplo, você tem uma história que começa com várias aventuras da dupla Ed e Al, e elas parecem não ter nenhuma relação entre si; mais para frente, porém, você vai gostar de tê-las lido e se impressionar com os resgates da autora. Isso é muito somativo à história.

 

Pra mim é muito difícil dissociar o roteiro da história em si, porque eu tendo a criar ambos, então personagens interessantes, concisos e bem desenvolvidos são obrigatórios. Gosto de explorar os sentimentos, pontos de vista e motivações, de forma que o leitor os entenda e se identifique com ao menos um. Se a história é curta demais, que não dê para desenvolver muito, no mínimo eles precisam ser críveis; personagens com quem o leitor se identifique. Pontas soltas, nem pensar! Se for para a história ter um tom misterioso e insolúvel, não dê explicações desnecessárias. Se for para dá-las, elas precisam ser muito boas, bem trabalhadas e expostas de forma que não fique forçado (diálogos explicativos forçados são muito comuns em one-shots, isso me dá nos nervos).

 

Quais as etapas da criação do roteiro?

 

CL – Como eu faço isso em dupla com Israel, primeiro nós decidimos que tipo de história será. Geralmente isso se dá quando ele vê a possibilidade de publicar algo em determinado formato, e então ele que dita o estilo. Por outro lado, tenho aquelas ideias na gaveta, que acho que não funcionam bem em formatos puramente escritos e gostaria que fossem quadrinhos, então também jogo essas ideias pra ele. Quando a ideia básica está decidida, caso não seja nada criado previamente, há um brainstorm, até que ambos achemos que temos bons personagens, ambientação adequada e premissa interessante para começar. Então, eu escrevo no meu canto, e, só quando tudo está completo, envio para ele. Então ele faz sua mágica quadrinistíca. Quando se trata de uma história longa envio capítulo por capítulo, mas já dou a ele uma noção geral da história inteira, para que ele possa pegar os pontos mais relevantes a adaptar melhor, e caso queira palpitar no roteiro também.

 

O que acha do formato de webcomics?

 

CL – É um formato interessante, acho muito legal ver a galera se esforçando para publicar seus quadrinhos por meio virtual, e alguns adquirem uma popularidade extraordinária. A interação mais direta com o público é outro ponto forte, porque geralmente o autor está sempre ouvindo de perto ou conversando com seu público através de comentários. É um formato que veio pra ficar, muito útil para a ascensão de artistas que têm a coragem e a disposição de investir aí.

 

IO – Libertário! Uma forma mais independente de expressão. Você tem o controle quando o faz. E para quem lê, tem uma gama incrível de títulos de qualidade, na sua maioria de graça!

 

Como definiria o momento atual do mercado nacional de quadrinhos?

 

IO – Acredito, pessoalmente, que está bem mais propício do que em épocas anteriores. Você tem acesso à internet, pode tocar uma produção independente, tem sites de financiamento coletivo como o Catarse. E, olhem só: o Lamen! Mas, infelizmente, não podemos dizer que chegamos a um cenário ideal. Temos artistas fantásticos e de potencial internacional, mas investimentos tímidos no nosso próprio material humano. Não acreditamos nos nossos próprios artistas, infelizmente.

 

Artistas de nível profissional nós temos de sobra, mas, no momento, está mais fácil você fazer uma carreira fora do que em terras tupiniquins. Precisamos de um mercado sustentável de obras nacionais pra que nossa riqueza artística não precise sair em busca de oportunidades. Então temos que trabalhar, né?

 

Quais outros trabalhos tem em desenvolvimento ou publicado?

 

CL – Certo, essa é uma pergunta capciosa. Meu único trabalho publicado certamente é Nuvens de Verão. Por meio virtual, veja só. Mas diria que tenho uma boa gama de escritos esperando apenas a minha boa vontade e dedicação. Alguns contos completos, mas ainda guardadinhos no meu PC; outros incompletos, esperando a vontade de voltar; livros em produção (que são minha principal preocupação) e muitas ideias de roteiro para quadrinhos na gaveta. Estas estão esperando a oportunidade de serem trabalhadas junto com o Israel, mas no momento ele está ocupado com outras coisas (suspense), então procuro me dedicar a meus projetos pessoais por enquanto. Coisa a longo prazo, nada imediato. Diria que sou um cara de muitas ideias, de muitas histórias, e espero que ao menos metade das que começo a conceber um dia chegue a ver a luz do Sol.

 

IO – Como falei, anteriormente: “Laila” e “Joaseiro”. O resto eu não posso falar, ainda, porque é segredinho (risos).

 


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