‘A Ordem’: Folclore e fantasia nos quadrinhos de Altemar Domingos

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Nada mais brasileiro que juntar folclore com quadrinhos, essa é exatamente a proposta do quadrinhista Altemar Domingos e sua Jaguara, guerreira indígena que utiliza  a milenar Lança de Tupã, para defender o Jaguaretama de forças malignas sobrenaturais e demoníacas.  Esse foi apenas o começo da releitura dos famosos personagens  mitológicos. Daí surgiram Lobisomen, Mula-sem-cabeça, Curupira e o Saci Aíba, além do próprio Tupã, que na história é um demônio que controla as tempestades. “Foi uma questão de fazer uma releitura deles, com conceitos e visual mais modernos.” explicou Altemar.

Jaguara agora é mais uma integrante de ‘A Ordem’, projeto que tem como proposta unir diversos super heróis brasileiro em uma história eletrizante e para tal busca angariar fundos através de uma campanha no site Catarse.

 

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 Como começou o seu interesse por quadrinhos?

 

Desde criança eu lia quadrinhos, a partir dos 8 anos para ser mais exato e não parei mais. A última HQ que cheguei a colecionar  regularmente foi Spawn, mas até a número 105, quando o Greg Capullo parou de desenhar, aí perdi o interesse em continuar. Hoje leio mais encadernados, edições especiais, algumas HQs online e os clássicos.

 

Como foi o início da sua carreira como quadrinista?

 

Em 1993, eu fiz um curso de Quadrinhos no Senac do Tatuapé com o prof. Carlos Morgani. Este foi o primeiro curso que fiz pois pagava com minha grana do meu trabalho, pois meus pais não podiam bancar cursos assim. Este curso me despertou o interesse em criar e escrever HQs. Foi aí que percebi que tinha facilidade para criar personagens e mundos. Em 1994, eu ganhei dois concursos de desenhos na extinta revista Herói. A partir daí não parei mais e em 1995 eu criei a Jaguara.

 

Como você entrou no projeto A Ordem?

 

Eu conheci o projeto através do Facebook, pois participo de várias páginas e comunidades sobre quadrinhos. Mandei um email para o Elenildo e ele já conhecia a Jaguara e acabou rolando a participação. A ousadia planejada me chamou a atenção neste projeto e por isso participei. Estou ansioso pelo resultado.

 

Conte sobre seu personagem

 

Eu criei a personagem em 1995 e a intenção era fazer uma guerreira indígena brasileira. No início, ela se chamava Haloa mas eu não tinha ideia nenhuma que este era um cumprimento havaiano e não uma língua indígena brasileira. Em 1996, eu descobri que tinha um curso de tupi antigo na USP e fui lá na intenção de convencer algum aluno desse curso a me ajudar no projeto e para minha surpresa e felicidade, o professor desse curso se interessou e começou a me ajudar constantemente, inclusive o nome Jaguara foi sugestão dele, pois significa algo assim “filha da onça” ou “aquela que é da onça” em tupi antigo. Foi aí que descobri (naquela época não tinha internet, por mais incrível que pareça) que o tupi antigo foi a língua oficial do Brasil até meados do século XVII.

 

Para se criar personagens de quadrinhos que você queira levar ao público em massa, quando essa é a meta, ao meu ver, o quadrinista não pode ignorar o fato do público de HQs está acostumado com nomes estrangeiros. Essa sonoridade tem de ser mantida, por isso o nome e sua pronúncia deve ser descolado e sonoramente semelhante ao que o público está acostumado. Não que eu discorde de personagens terem nomes totalmente brasileiros, mas se a ideia é atingir esse público, isso precisa ser considerado. Por isso acabei demorando quase 1 ano para escolher o nome. E Jaguara, além de fazer todo o sentido com o enredo e universo da personagem, ficou legal e descolado.

 

Em uma HQ, não adianta ter um protagonista super legal e bem concebido, mas para termos boas histórias, são necessários antagonistas no mesmo padrão de criação. Bons inimigos dão boas histórias sempre.

 

grito_jaguara Ikan jag_esboco6

jaguara_arcodetupaA pegada das histórias da Jaguara sempre foi para a ficção, aventura e sobrenatural. Claro que teriam lutas entre tribos ferozes, criaturas e animais criados por mim, mas eu queria algo a mais, algo mais conhecido que eu pudesse introduzir em suas histórias. Foi aí que tive o estalo: nosso Folclore! Existem uma infinidade de personagens mitológicos e sobrenaturais maravilhosos em nosso Folclore. Foi uma questão de fazer uma releitura deles, com conceitos e visual mais modernos. Mas ler a obra do pesquisador Luiz da Câmara Cascudo, foi de suma importância para eu ter repertório e entendimento sobre muitos de nossos mais famosos mitos.

 

Foi assim que nasceu o Lobisomen, Mula-sem-cabeça, Curupira e o Saci Aíba (Demônio Saci em tupi antigo). Da cultura indígena, fiz uma releitura de Tupã, que na verdade não é o principal Deus indígena e sim um demônio que controla as tempestades e os trovões e o Jurupari.

 

Jurupari saci_aiba3 saci_aiba2

 

saci_aibaA Jaguara é da tribo dos Krenakores, conhecidos como Panarás, que descobri em longas pesquisas na biblioteca Mário de Andrade, que era uma tribo desconhecida até 1973. Eles eram chamados de Kren-a-karore pelos inimigos Txucarramães e por outras tribos, mas se auto intitulavam Panarás. Essa tribo era conhecida a muito tempo, muito tempo mesmo exatamente por sua extravagância genética, pois haviam rumores entres muitas tribos brasileiras que estes índios passavam de 2 metros de altura!

 

Os Panarás eram os últimos descendentes dos Kayapós do sul, grupo nômade que falava uma língua da família Jê e habitava o Brasil Central, no século XVIII, do norte de São Paulo até o Mato Grosso. Lutaram muito contra os portugueses nessa época.

 

Pesquisando, descobri que em 1973, o indigenista Orlando Villas Bôas e seu irmão Cláudio Villas Bôas, após muitas tentativas, conseguiram finalmente um contato direto com essa tribo arisca. Orlando afirma que a maioria tinha uma estatura muito abaixo do que ele esperava, mas tinha realmente um grupo de guerreiros que passava de 2 metros de altura.

Quem quiser saber mais, fiz uma matéria bem completa, inclusive com fotos no blog da Jaguara. Fiquei fascinado com esta história e usei o nome Krenakores para definir a origem da Jaguara e justificar seus 1,95 m de altura.

 

A Jaguara é uma excepcional guerreira, com a força incrível, habilidades símias no alto das árvores, muito ágil e rápida, excelente nadadora e mergulhadora, visão aguçadíssima, olfato apurado e audição extraordinária. É uma grande estrategista de guerra, linda, justa e com o poder da lidarança. Além disso, ela é a única que pode empunhar a milenar Lança de Tupã, dada pelo próprio Tupã para que ela defenda o Jaguaretama de forças malignas sobrenaturais e demoníacas. Essa lança é um entidade, capaz de evocar tempestades e canalizar o poder do trovão, além de se transformar em um arco duplo de combate com flechas místicas. Jaguara controla esta arma com o pensamento.

 

O personagem já existia ou foi criado para o projeto?

 

Já existia desde 1995. Em 2005, no dia 19 de abril (Dia do Índio) eu lancei seu primeiro livro no Centro Cultural Vergueiro em São Paulo, chamado “Jaguara – Guerreira e Soberana”. Seu segundo livro, entitulado “Jaguara e o Segredo dos Guarini Kai’s” está previsto para abril de 2015.

 

Conte um pouco sobre outros projetos seus.

 

Eu tenho vários outros personagens que irei lançar conforme for me sobrando tempo para criar. Eu fechei recentemente um acordo com um blog sobre comportamento de casais muito legao chamado “Rolê de Casal“, para distribuir uma tiras minhas dos “Casados & Apressados”, onde conto de forma bem humorada, com humor ora pastelão, ora ácido, sobre as desventuras de Sandro Sossego e Estela Estressada como um casal recém casados, onde tentam conciliar a vida profissional insana com a novidade matrimonial, os deveres de casa e casal.

 

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Além disso, estou junto de uma equipe talentosa, desenvolvendo um game com a versão infantil e fofa da Jaguara, a Jaguara Mirim. Este game está em fase inicial e sendo desenvolvido para internet, iOS e Android. Talvez Windows Phone e PC caso conseguirmos apoio. Estou também ilustrando um livro infantil com a Jaguara Mirim que pretendo lançar este ano, provavelmente em 22 de agosto, chamado “Jaguara Mirim e o Pintor Especial”.

Eu criei recentemente um blog de leitura online gratuita, para publicar histórias curtas da Jaguara durante o ano. E já coloquei para leitura gratuita o primeiro capítulo inteiro do livro da Jaguara. Quem quiser conferir e ler, é só acessar.


#Quadrinhos   ; ; ; ; ;


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